quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2009 & 2010

Começa a chegar o momento de pedir todos os desejos para 2010, prometer coisas que dizemos vir a fazer, coisas que realmente acabaremos por fazer, coisas que apenas se dizem, mas vão pelos caminhos do esquecimentos. Todos desejam um ano brutal, cheio de coisas novas, coisas, coisas, desejos, desejos, fantasias, fantasias...
Quanto a mim, não me queixo de 2009. Aliás, 2009 foi um ano, e desculpem a expressão, do CARALHO!
Ora vejam lá bem o meu balanço:

- No dia 24 de Janeiro conheci uma miúda por quem fiquei logo apanhadinho;
- No dia 31 de Janeiro recebi o primeiro abraço dela, no final de uma concerto que dei com os ArtLeak;
- Em Janeiro assinei ainda um contrato para publicar um livro;
- No dia 14 de Fevereiro demos o nosso primeiro beijo e começamos a namorar;
- Em Julho de 2009 licenciei-me em Línguas Aplicadas (Universidade do Minho);
- Passei um Verão em grande com a minha miúda e com bons concertos;
- Arranjei emprego como docente de espanhol e nos meus dois primeiros dias de trabalho tinha ainda 20 anos;
- Finalmente a editora entregou-me o livro (quanto ao resto estão a falhar desgraçadamente mas espero que no Novo Ano se resolva);
- Estou a adorar o meu emprego (adoro dar aulas, tenho colegas de trabalhos espectaculares e as minhas turmas são muito porreiras);
- Dei cerca de 15 concertos em 2009;

E muitas coisas poderia aqui acrescentar, pois, todos os momentos com a família e os amigos são de relembrar!
Bem, para 2010, então?
Se correr como o 2009, fico muito contente! Não é ser modesto, é ser realista e ter os pés assentes na terra!
Mas querem uma lista de desejos? Ok, aqui vai:
- Que tudo comigo e com a Raquel continue pelo melhor;
- Que o meu emprego se mantenha (Sim, por favor...Pela experiÊncia fantástica que tenho tido);
- Que a minha editora se facilite a ela própria e tudo se revolva de forma descomplicada;
- Que o livro agrade a quem o ler;
- Que os concertos continuem;
- Que todos à minha volta continuem de boa saúde e sempre em grande;

Como podem ver, passa tudo por metas que fui cumprindo, são tudo desejos para os quais fui trabalhando...Ok, a minha lista de desejos mais parece uma lista de manutenção, mas as coisas são mesmo assim, damos cada passo da maneira que nos é possível.
Não, não vou rezar para ganhar o Euro milhões antes de gastar 2€ jogar...Certo?
"Já agora, vale a pena pensar nisto..."...xD

Um fantástico 2010 para todos!
Grande Abraço,


António Campos Soares

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O lado afortunado da vida é ter a amizade como bonança (Lightning Shadows uma banda, uma grupo de amigos)

O lado afortunado da vida é ter amizade como bonança...


Instituto Missionário Coração, Coimbra, 2004

Estava eu no 11º ano, no seminário. As minhas dúvidas vocacionais arrastavam-se já há dois anos, mas sentia-me bem ali. A minha fé estava cada vez mais abalada, mas estava bem ali. Sentia-me bem em família. Sentia-me acolhido.
Apesar de todas as dúvidas que me tiravam o sono, eu tinha uma certeza: naquele ano eu iria formar uma banda a sério:

“P’rós lados da música esta merda está a correr muito bem...e já tenho um início de uma banda. Eu e o Nemo somos os leaders.
Constituições: voz: Nemo
Guitarra solo: António Soares
Guitarra Ritmo: Antonino
Baixo: Xavier???
Bateria: João Pedro???
Os primeiros concerto serão capazes apenas de ser acústicos. Tipo, duas guitarras acústicas e voz. Começamos pelos bares. Penso que o primeiro dos melhores concertos vai ser na escola da minha mãe porque vai ter todos os instrumentos essenciais para o rock. Vai ser espectacular. É só preciso dedicação....o melhor do rock vai explodir.” (03-10-2004)


Foi aqui que tudo começou. Éramos os Lost Soul, o Xavier e o João Pedro tinham alinhado. Quatro putos inocentes em busca do estrelato, num sonho infinito, dentro das quatro paredes do Basófias que, por sua vez, estava dentro das quatro paredes do seminário. No entanto, o nosso sonho foi mais longe. Apesar da troça dos colegas que nunca acreditaram em nós, apesar das “bocas” dos formadores, não desistimos. Alguns, mais influenciáveis às vezes tremiam mas, sempre que foi preciso, puxámos uns pelos outros.
Comecei a vestir preto, a deixar crescer a pêra, a javardar, a minha mente foi-se abrindo...olhei para tudo de outra maneira, foi aí que também comecei a adorar o que escrevia, tanto a nível de poemas, como músicas que ia compondo, foi aí que começamos, eu e o João Pedro, a seguir o culto da cerveja.
Os nossos Domingos eram marcados pela passagem no Cartola para encanar “dieseis” e cerveja à socapa. Tinha que ser assim, pois, no seminário também havia gente execrável, capaz de tudo para cair nas boas graças do Sr. Padre.
O Nando juntou-se à banda como percussionista...o destino vai juntando todas as peças!
A nossa primeira actuação caseira foi lá no seminário, no festival Capa Negra. Tocámos a nossa rockalhada com letras espirituais. Não me soube a nada e pelos visto, o que todos queria era um pouco de manteiga para barrar o pão. Também outra coisa não se podia esperar.
O ambiente começou a piorar depois das férias da páscoa de 2005...
Se o lado afortunado da vida é ter amizade como bonança, então, é essencial saber qual a medida ideal da bonança. Interpretem como quiserem, mais não digo, não vale a pena desenterrar venenos de há tanto...
O Nemo foi expulso da banda, pois, uma banda não anda para a frente com gente que só está lá para o estilo, para ter miúdas e beber umas copadas!
“Quanto à banda, nós queremos mandar o Nemo embora porque não tem os requisitos que nós queremos e porque não sabe nada de música, não escreve uma letra, não compõe uma música, não canta uma múscia em condições, não toca nenhum instrumento.” (09-05-2005)

O Nando substituiu o Nemo na voz, passámos a ser os Lightning Shadows. Aí sim, começou o que viria a ser uma espectáculo pelos três anos seguintes: amizades fortes, bons concertos, grandes momentos, borracheiras de caixão à cova, miúdas “tolas” pelo "man" da guitarra, da bateria, do baixo ou da voz...desde que fosse músico, era capaz de matar a fome às miúdas sedentas. O quanto me ri às custas disso...
Demos o nosso primeiro concerto em 2005, na escola onde acutalmente lecciono espanhol e onde voltei a tocar no presente ano, mas isso é outra conversa!
No dia em que íamos dar o concerto estávamos a passear pela escola e gravar um vídeo de recordação, até que ouvimos alguém “Olha, queres ver? Vinde cá que ides levar duas chapadas cada um...”. Era uma funcionária da escolha que vinha atrás de nós pensando que a estávamos a filmar a ela. O Xavier fechou a câmara e demos de frosques às gargalhadas.

Didáxis, Vale São Cosme, 08-07-2005
“Finalmente (...) à tarde voltámos à escola mas, nesse dia, íamos ter o último ensaio e finalmente o concerto. (...) O concerto foi curto mas correu pelo melhor. Repertório: American Idiot, Green Day
Dunas, GNR
Lost Soul, Lightning Shadows
Knockin’On’Heaven’s Door, Bob Dylan
Apresentação da banda com a Last Resort
When I come around, Green Day
Terrible Silence, Lightning Shadows
Queda do Império, Vitorino”


Obviamente que, naquela altura, todos excitados, não vimos nada de mal no concerto, tudo tinha sido perfeito, mas agora, ainda nos rimos muito com os nossos pregos. Lembro-me perfeitamente do João Pedro a resmungar com a bateria por esta estar a deslizar “Oh filha da p***...”Ouvi-o melhor a ele do que à minha guitarra!
No dia seguinte acordámos de manhã, no sótão de minha casa, com o João Pedro agarrado aos tomates, à janela, enquanto simulava disparos sempre que via um pássaro a passar! WTF!!!???
Nesse verão voltámos a tocar, mas em Carvalhosa. Deixámo-nos pagar o sistema de som. No entanto, tudo o que queríamos era tocar e encantar. E quem nos safou sempre foi o padre Humberto, que eu considero como um grande amigo e mentor. Não será demasiado dizer que se não fosse ele, nenhum destes cinco putos seria o que é hoje!

Carvalhosa, 27-08-2005
“...No dia 25 e 26, foram ensaios p’ro concerto de Carvalhosa. Finalmente, no dia 27, foi o grande concerto dos Lightning Shadows. Eu estava excitado com tudo. Eram duas da manhã e já o público ‘tava freneticamente à nossa espera e foi então que, com uma distorção vinda do meu amplificador, soaram os primeiros acordes da música When I Come Around dos green Day. O público foi ao rubro. Tocámos doze músicas:
When I Come Around, Green Day
Lost Soul, Lightning Shadows
The Reason, Hoobastank
Terrible Silence, Lightning Shadows
Dunas, GNR
Why, Lightning Shadows
Like a Puppet in Your Hands, Lightning Shadows
Last Kiss, Pearl Jam
Nothing Man, Lightning Shadows
Maria Albertina, António Variações


Foi fantástico ver o mosh e ver o pessoal a saltar. A melhor sensação foi quando eu ouvi o público a tentar cantar os refrões das nossas músicas. Senti mãos a serem passadas nas minhas All Star pretas quando me cheguei mesmo à frente do palco. (...) Foi nesse concerto que eu senti mesmo o que tinha uma banda e que aquilo se tinha tornado para mim um objectivo. Somos como irmãos!”

O lado afortunado da vida é ter a amizade como bonança...Bem o dizes, João Pedro!
Tinha sido, na verdade, um grande concerto, mas não o melhor da carreira dos Lighnting Shadows.
As férias do Verão de 2005 tinham acabado, eu tinha saído do semiário, mas eles voltaram para lá, eu fui para o liceu de Joane.
Nesses meses que iriam até ao Verão de 2006 fomos ensaiando na Fábrica de Som, no Porto e íamos sonhando, divangando, compondo, vivendo e javardando, sem nunca deixar de ser bons rapazes, ou não!
Falando de bons rapazes, na verdade, éramos e continuamos a ser, no presente, apesar de a banda ater cabado, bons rapazes. Orgulho-me de dizer que nunca consumimos qualquer tipo de droga enquanto banda, quanto ao resto, já não é da minha conta, no entanto, enquanto banda, eu certificava que o consumo desse tipo subtâncias não ocorria.
O auge dos Lightning Shadows ocorreu entre Setembro e Novembro de 2006.
O Verão de 2006 parecia um deserto, nada de concertos, poucos ensaios, o Antonino, por motivos pessoais decide abandonar a banda, estávamos a desaniamar...mas, mais uma vezes, fomos convidados para tocar nas festas da terrinha, por 200€. Naquela altura, aquilo pareceu-nos algo que nos poria ao nível de estrelas rock.
Foi nas festas em honra de São Bento, em Joane, num palco montado em cima de uma campo de couves, pois é! Na verdade, tínhamos um óptimo som e correu tudo pelo melhor. Tínhamos acrescentado a All The Small Things (Blink 182) e o Vira-Vira (Momonas Assassinas) ao repertório. O Vira-Vira passou a ser um dos nossos melhores covers e o público ria-se sempre quando eu fazia a parte do Herman. Imagine-se lá o esforço que eu não fazia para estar sério!
Foi fantástica a sensação de fazer 18 anos em cima de um palco...
No entanto, o verdadeiro momento da noite não foi esse. Umas duas semanas atrás quase fomos expulsos de Carvalhos, onde nos tinham prometido uma nova actuação, mas festeiros na vinhaça é o que dá.
Os nossos amigos de lá ficaram desanimados por não haver concerto, no entanto, mal confirmámos em Joane, avisei-os. Não tive uma única resposta.
“Cagaram p’ra nós, de certeza...”
Querem saber o que aconteceu? Caiu-me tudo...
Engoli estas palavras quando estava a tocar a Terrible Silence, em Joane, olho para o público e, afinal, eles apareceram, estavam lá com a mesma energia do ano anterior. Foi das melhores coisas que senti desde que ando pelas ruas da música.
No fim desse concerto, um sujeito vem ter comigo e diz-me “o que vos falta é gajas, gajas jeitosas a mostrar as pernas p’ra chamar povo”...Enchi-me de ascos, nojo, pejo, vontade de partir a cara àquele sujeito. Não desci de nível.
Um mês depois abrimos o concerto para a banda dele...O quanto eu me ri à pala deles. Nesse concerto, em São Martinho do Vale, fizemos um video da Nothing Man. Sim, esse video onde as miúdas berram por mim. Adoro quando o pessoal se junta e nos rimos de tudo o que passámos...



Mas antes disso, fomos convidados por uma lista do Liceu de Joane para tocar no Contempl’arte, no dia 31 de Outubro de 2006. Sabem que mais?
Este foi o nosso melhor concerto! Fodemos tudo! Duzentas e tal pessoas para nos ver. Mal nos podíamos mexer. O público invade o balcão, sobe para as mesas, a casa é completamente nossa! Acabei a noite comletamente bêbado com o João Pedro, ambos a javardar e a chatear o Picasso, dono do Contempl’arte!
No dia 15 de Junho actuámos no Liceu de Joane, nada de especial!
No ínicio do Verão de 2007, participámos num Tributo a Nirvana, realizado no mesmo bar com os Cratera e com os Ketamina. Outro concerto para arrasar, mas pela primeira vez na vida, tocámos todos bêbados, excepto o Xavier. O Nando já não atinava com as letras “lalalalala”, eu fiz o solo da Smells Like Teen Spirit com um garrafa de cerveja que tinha acabado de beber e o João Pedro, no fim, aterra atrás da bateria. Foi aí que tomei o gosto pelo whisky!
Esse foi o nosso último concerto! No entanto, a banda só se viria a espartilhar no final do verão de 2007, por motivos pessoais de cada membro!
Contávamos com 5 originais:
Nothing Man (letra e música por António Soares)
Lost Soul (letra e música por António Soares)
Why (letra e música por António Soares)
Terrible Silence (letra por António Soares e música por Antonino Sousa e António Soares)
Puppet in Your Hands (letra por Nando e música por Antonino)

Mais do que uma mera banda, fomos e somos ainda um grupo de amigos!

O Nemo, dizem que saiu do seminário no fim do 12º ano e foi para a universidade, a partir daí, desapareceu do mapa.
O Antonino, continua na vida religiosa, está actualmente no segundo de teologia na Universidade Católica, em Lisboa.
O João Pedro, no Verão, envereda no exército. Actualmente frequenta a licenciatura de Ciências da Educação.
O Xavier ingressa em Ciências da Educação também. Ele e o Nando são já finalistas.
Para não fugir à regra, o Nando, ingressa também em Ciências da Educação, na Universidade do Minho, no entanto, ainda participou em alguns projectos comigo.
Quanto a mim, em Setembro de 2007, fui fazer Erasmus para Granada. Actualmente, formado em Línguas Aplicadas, sou professor de espanhol.
Eu e o Nando temos um projecto em comum, os ArtLeak!


Coma alcoólico…

O lado afortunado da vida é ter a amizade como bonança…
Fecho os olhos, em coma, vendo como a minha insanidade avança…
Tornando-se escuridão que encobre a luz d’uma vela acesa.
Luz da felicidade, que nunca irei alcançar …por fraqueza!

Sou espantalho animado por realidades inteligíveis…
Acordo ressacado deste pesadelo chamado Vida, asfixiado por sonhos inatingíveis…
Vivo num mundo de quimeras onde esqueço que sou um odiável comodista,
Sou um monstro… uma espécie de anjo “psicomasoquista”.

Se deus existe… que arda comigo no inferno!
Somos fruto da Primavera apodrecidos por este obscuro Inverno…
Procurando o antídoto para a minha inata crueldade…
Apenas engulo lágrimas provocadas pela injusta e confusa realidade…

Onde danço, paralisado, melodias de um distante e inocente passado.
O álcool é um machado, e eu que era o carrasco, estou agora decapitado.
Nesta psicológica guerra onde sou o único soldado,
Resta-me aguardar calmamente o momento de ser sepultado…

Dedicado ao melhor amigo do mundo…


(poema por João Pedro)



Biografia por António Campos Soares

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Foo Fighters - Wheels




Aqui estão eles: Foo Fighters!
Sim, posso afirmar que são a minha banda favorita já há muitos anos!
Foi na minha adolescência que a Times Like These me fez ver muitas coisas com outras olhos, muitas vezes me ri com o video da Big Me e da Learn to Fly, deliciei-me a aprender tocar a Monkey Wrench, uma das minhas bandas de adolescência chegou a fazer um cover da Doll, fui muitas vezes buscar forças à Best Of You (música com uma letra poderosa), tremi quando, em Agosto de 2005, eles abriram o concerto em Paredes de Coura com a In Your Honor, ouvi muitas vez a Home pela noite adentro e, no outro dia, estava eu a ouvir rádio quando ouço uma música desconhecida cuja voz me é muito familiar. Era a Wheels!
Gostei, mais uma vez estão de parabéns, continuam a ser a minha banda de eleição!
Aproveito ainda para dizer-vos que o meu gosto por esta banda foi-me passado por um grande amigo que estudou comigo no seminário, o Vitor! Sim, passámos muitas horas a ouvir Foo Fighters e a pesquisar coisas sobre eles, tínhamos símbolos e fotos dos Foo Fighters coladas nas nossas mesas de estudo! Continuamos como irmãos e a nossa predilecção pelos Foo Fighters continua em grande!
Qualquer dia vamos tomar um cafezinho com eles?
Alguém me pode dizer onde é que eles costumam parar?...=P

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Na Índia (diz-se)...

"Quando se perde algum ancião, perde-se uma biblioteca."

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Quando a mentira se torna verdade!

"Uma mentira cem vezes dita, torna-se verdade".

ArtLeak na Escola Cooperativa Vale São Cosme - 24.10.2009





Sim, este sou eu! O professor de espanhol!
Há anos que não me sentia tão bem e tão frenético num concerto. Não contava que nós, ArtLeak, apenas com temas originais, íamos conseguir tanta atenção e interesse do público, um público fantástico, cheio de energia que fez parte de nós. Garanto que sem um público assim, não teríamos feito tanto, não teríamos dado tanto!
Obrigado a todos! Um grande obrigado ainda à turma 12.2, meus alunos, pelo convite, pela boa organização e pelo excelente arroz de pato que nos deram para jantar! =P
Obrigado aos Scream of the Soul e a'Os Tais pelo bom ambiente e pela "gróia"! =)
Um grande abraço,


António Campos Soares

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Felizes os que amam o Senhor

No passado Domingo, dia 09 de Agosto de 2009, fui às festas populares de A-Ver-O-Mar, em honra de Nossa Senhora das Neves. Não, não fui em peregrinação, fui mesmo para ir ver o Quim Barreiros e, talvez, dar um pezinho de dança mas, como depois tinha de conduzir, tal façanha não se proporcionou como nos velhos tempos de Enterro, mas isso são outras histórias.
Tinha eu chegado à zona das festas e o concerto ainda não tinha começado. Estava com a minha namorada e com algumas amigas dela e, então, decidimos entrar na igreja. Em tantos anos de prática de catolicismo, nunca me tinha apercebido de um infeliz pormenor.
Entrei na igreja e do lado direito, de onde tinham removido os bancos, estava uma fila de santos. Pus-me a observá-los um a um (Santo António, Nossa Senhora de Fátima, São Pedro, São Sebastião, São Bento e tantos outros) e havia um pormenor comum a todos. Não era a auréola, nem os mantos...era a expressão facial deles. Fiquei, de certo modo apreensivo e sem saber o que pensar. Todos eles tinham rostos tristes, assombrados, nenhum deles esboçava um sorriso. Mas afinal, fazer-se santo não implica ter uma vida plena de bondade, humildade e felicidade? Então, onde estão os sorrisos? A felicidade de que as músicas litúrgicas tanto falam? Nem o Santo António Casamenteiro se ria, nem o São Nicolau rodeado de crianças tinha o tom de avozinho, São Sebastião ainda se queixava das flechas cravadas no corpo e, por fim, Cristo ainda agonizava pregado a uma cruz.
Continuo a ter as minhas crenças mas há coisas que já desapareceram, os factos falam por si, e aqueles rostos não me cativaram...
Não quero de maneira nenhuma pôr nada em causa, mas os santos merecem ser visto com um sorriso!


António Campos Soares

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Riposi in Pace

Omaggio a Padre Angelo Caminatti, grande uomo, grande amico, una pietra miliare della storia del genere umano.

Fino sempre!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

St. Mary's Catholic Cemetery, Kensal Green, London (15.06.2009)



Calou-se o espectro do meu assombro,
Quando o corvo esvoaçou entre as árvores.
Correu para longe a raposa,
Entrei no local sagrado,
Onde tudo repousa.
Anjos prostrados partilham a dor,
Sentem a saudade.
Fecho os olhos,
Quando o sol desaparece,
Alheio-me.
Calco as folhas secas,
Caminho de braços abertos.
As almas descansam,
Onde ninguém as perturba,
Não as invoco,
Deixo que guardem os segredos do passado,
Tão cobiçados.
Sinto a mão terna do meu anjo,
Que me acaricia o rosto,
O meu anjo abraça-me!
É hora de voltar,
Ainda não chegou a minha hora.


António Campos Soares
[foto por António Campos]

terça-feira, 2 de junho de 2009

O sorriso mais belo...!

Sorrir, muito superior a rir!
Sorri-se quando se está feliz, quando nos enamoramos e nos apaixonamos, quando se ama, quando se vive...
Ri-se quando se está alegre, divertido, quando se brinca mas também quando se goza ou espezinha alguém...
Eu prefiro o sorriso!
Conheço o mais belo de todos os sorrisos:
Aquele sorriso em que os olhos acompanham a expressão do sorriso...todo o rosto me transmite felicidade, beleza, harmonia, paz, tranquilidade e vontade de sorrir também, por isso, adormeço e acordo sempre com um sorriso sempre estampado na fronha! (",)

[[[*]]]

António Campos Soares

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Hurt (cover by Johnny Cash)

I hurt myself today
To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing that's real
The needle tears a hole
The old familiar sting
Try to kill it all away
But I remember everything


What have I become
My sweetest friend
Everyone I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt


I wear this crown of thorns
Upon my liar's chair
Full of broken thoughts
I cannot repair
Beneath the stains of time
The feelings disappear
You are someone else
I am still right here


What have I become
My sweetest friend
Everyone I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt


If I could start again
A million miles away
I would keep myself
I would find a way

terça-feira, 26 de maio de 2009

Onde cair morto?




Ia a sair de uma papelaria, tinha ido comprar um caderno para fazer um diário da minha banda, um coisa engraçada onde conste todas as situações pelas quais a banda vai passando, todas as brincadeiras, um memorando...Afinal somos todos tipos novos...
Quando vou a sair da livraria, olho para os anúncios (para verificar se ainda lá estava o meu das explicações) e foi então que vi o anúncio da foto! Garanto-vos que a princípio pensei que era alguém a oferecer-se para tomar conta de animais domésticos mas depois olhei melhor e alto lá: o anúncios é de alguém que se oferece para tomar conta de idosos!
Deu-me um súbito medo de envelhecer. Senti medo de olhar para o relógio, de respirar, de pestanejar... Afinal um dia também serei idoso, todos seremos e será que alguém vai querer tomar conta de nós? Será que alguém vai ligar para um anúncio destes para nos entregar? Será que há alguém com uma casa com muitas "celas" onde alimenta e limpa os idosos?
Não sou contra quem cuida de idosos e lhes dá o afecto que muitas vezes eles necessitam, aliás, dou imenso valor a isso!
Deve ser fantástico chegar a velhinho e ter tanto para contar, uma longa vida...mas ainda melhor será ter alguém que nos escuta com atenção e carinho.
Não gostei da maneira como este anúncio foi redigido. Espero, e isto é muito sincero, que a pessoa que redigiu o anúncio não seja, com os idosos que quer cuidar, a amargura das palavras que preenchem o anúncio.
Há que ser profissional, mas quem disse que carinho e afecto não fazem parte do profissionalismo?


António Campos Soares

domingo, 3 de maio de 2009

Descansa em Paz...


Ao entrar no quarto olhei para o fundo do corredor e lá estava o meu avô a olhar para mim, por detrás de uma grande retrato a óleo feito quando ele ainda era vivo. Passei minutos a olhar para ele e a recordar tudo o que passei com ele, tudo o que ele me ensinou, as saudades provocadas pela sua partida há dez anos. Parece tudo tão recente. Às vezes tenho a sensação de ouvi-lo a chamar por mim ou a dizer-me algo que me tornou naquilo que sou. Entrei no quarto com lágrimas nos olhos, sentei-me na secretária e liguei a aparelhagem. Nada mais nostálgico do que recordar o passado a ouvir a Yesterday dos Beatles. Tinha um bloco de notas em cima da secretária e comecei a escrever:

Para sempre como meu anjo

Em muitos anos passados,
Nunca te escrevi uma ode,
Nunca gravei o teu nome num epitáfio,
Não lamentei a tua perda em minhas palavras
Só para que vissem o meu sofrimento.
Chorei horas sem fim
Sempre resguardado pela noite,
Sempre envolto de recordações
E de palavras que me foste deixando.
Serei eu capaz de dignificar um anjo,
De dar-lhe um nome,
E poder agradecer-lhe toda a sua protecção?
Agradeço-te os milagres,
Agradeço-te o caminho,
Agradeço-te a luz, a força, o orgulho…
Agradeço-te quem sou,
Modelado pelas tuas únicas e convictas palavras.

Pela primeira vez desde que partiste consegui dedicar-te algo. Já tinha tentado vezes sem conta fazer uma música dedicada a ti mas nunca saiu nada. Tudo não passou de tentativas frustradas, mas naquela noite consegui. Perdi a noção do tempo a olhar para o que tinha escrito e, por fim, lá coloquei o poema na minha caixa das recordações, junto a uma velha foto em que eu estava contigo a pescar. Não imaginas a falta que mesmo hoje me fazes. Gostaria que visses o quanto cresci, em quem me tornei, o quanto sou parecido contigo, quantos sonhos já realizei, quantos objectivos ainda tenho para realiza...No outro dia fui a um casamento e quando vi a noiva abraçar o seu avô comecei a chorar...
Triste de mim que não te vou ter ao meu lado, sim, neste momento choro, é tudo tão recente. Dez anos não são nada na longa vida que ainda há pela frente e enfrentar toda a vida sem ti, essa dor dilacera-me profundamente, é uma angústia terrível.
Vejo a tua netinha Ana Pedro,minha irmã, ela é tão feliz...Muitas vezes saí, com lágrimas nos olhos por ela não te puder conhecer. Serei eu digo de lhe falar de ti? Espero, pelo menos, ser para ela, um pouco daquilo que foste para mim...
Ainda hoje se em casa falam de ti, não aguento, parece que foi ontem.
Há uns anos decidiram passar videos de natais antigos numa noite de consoada, mas não aguentei ver-te ali no ecrã, vivo e sorridente, e olhar à volta e não estares lá.
Faz-me como tu, nunca me abandones, avô querido...


Descansa em paz...

António Campos Soares

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Mãe

Mãe, mulher que vence o medo para amar, mas que não tem medo de morrer por amor...


Próximo dia 3 de Maio não esqueçam um abraço e um beijo, todas as mães o merecem!

António Campos Soares

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Tenham pena e caridade, deixaide uma esmolinha!

Há certas coisas que nos dão pena, outras deixam-nos a pensar e outras que nos obominam...Que nos fazem querer escarrar e espezinhar determinadas bestas hediondas. Desculpem alguns vocábulos, mas não encontro sinónimos mais suaves.
Era dia de Páscoa e lá tive eu que ir à missa. Fiquei à porta de igreja para que, mal acabasse a missa, me pudesse esquivar porque estava a dar um filme porreiro na televisão! Mal acaba a missa e dou meia volta para ir para casa, deparo-me com algo abominável, hediondo, deprimente, miserável:
Um homem, com os seus 50 anos, sentado no chão, com a sua filha, de uns 16 anos, ao colo, dizia bem alto, "Tenham pena e caridade, deixaide uma esmolinha!"
A filha, podre criatura, tão sujinha, tinha metade do rosto queimado (creio que a queimadura se prolongava até metade da cabeça também, mas isso, não é o que importa). O homem exibia aquela marca da filha que estava ali deitada no seu colo. "Tenham pena e caridade, deixade uma esmolinha!"
O hediondo e miserável chegou quando vi que aquela besta de homem, sempre que a filha se mexia ou erguia a cabeça, a empurrava para baixo ou lhe dava um valente sopapo para que ela voltasse à posição de exibição. "Tenham pena e caridade, deixaide uma esmolinha!" e mais um sopapo na triste criatura.
O que é certo é que muita gente ingénua ou estúpida, certamente, lá ia dar uma esmolinha.
Fiquei uns valentes minutos a olhar a cena.
"Tenham pena e caridade, deixaide uma esmolinha!" e a sua mão enchia-se cada vez mais, creio que no fim, em vez de sopapos, ia dar murros na filha, pois, não me cheira que a besta abriria mão das esmolinhas, que não duvido que fossem para encher apenas a sua pança ou para mais umas canecas e quando chega a casa não há piedade nem caridade, pois, pelo que vi, pagarão a mulher e quantas filhas viverem naquele lar.
Fui-me embora, tentando não pensar mais naquilo, mas era inevitável...Aquela besta não merece nem pena nem caridade!

António Campos Soares

domingo, 12 de abril de 2009

Para pensar...

"Sem confiança, não conseguiríamos sair da cama de manhã, pois seríamos assaltados por um medo indeterminado."

Niklas Luhmann

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Salva-me da demência, acolhendo-me em teus braços...

São 4h da manhã cá em Espanha (menos uma onde desejaria estar). É já a quarta hora que vejo passar no relógio, que me passa ao lado. Frustração por querer fechar os olhos e não adormecer profundamente, como já há muitos dias desejo. Vontade de rapidamente me entregar ao reino de Morfeu e encontrar o meu anjo num dos nossos sonhos, quão difícil suportar a dor de não o conseguir.
O meu estômago arde e consome-se. Há dias que sinto esta sensação…O meu espírito alheia-se a tudo, tirando a vontade de aproveitar os momentos dos sítios onde estou. Porque estou eu a deixar o tempo corroer-me? Porque estou eu a apodrecer, degenerando a minha mente, enquanto, aguardo a demência profunda, sentado num banco de jardim, em plena primavera? Luto contra a insanidade profunda, mas fraquejo. Não caminho, mas arrasto-me na direcção de algumas vozes que vou ouvindo. Trôpego caminhar, irei de novo alcançar as ruas da amargura, o boulevard da minha antiga fiel amiga boémia, que quase me putrificou? Contorço-me com as dores, são tão fortes…Tremo!
Engulo em seco, desejando algo que as minhas mãos não alcançam. Temo revelar toda a verdade: aceitarão tudo isso ou levar-me-ão a praça pública? Hoje já não é o tempo da fogueira, da tortura, da forca ou decapitação…Hoje é o tempo do desprezo, da renegação, do ignorar…Algo pior do que isso? Um ser ignorado, deixa de existir, por mais que fale, se pronuncie, está marcado o seu fim…Ou serei espezinhado pela minha dúvida e por elevar o ser humano a um estatuto superior?
Algo me desvia o olhar, me provoca náuseas, o meu estômago volta a contorcer-se….Queima! Caminhando lentamente, ouço correntes…Olho para trás, são as minhas correntes, correntes que não quero largar, correntes que o tempo torna correntes, mas, na verdade, são grandiosos sentimentos, que vividos no Agora, prevalecem e conduzem a um longo e valioso caminho a um mundo por nós edificado.
Meu anjo, abraça-me, acolhe-me em teus braços, protege-me sempre que puderes, cura-me, liberta-me deste horror que me sufoca, deste tenebroso cubículo que me impede de viver os meus sonhos…Sim, meu anjo, acolhe-me e embala-me em teus braços, onde poderei descansar profundamente e seguro, onde nada me perturba, meu porto seguro…
[*]
António Campos Soares

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Tomai lá do Baixinho...=P


Olé...=P

Hoje, venho cá falar ao bando de pelintras!

Para os que dizem que sou baixinho;

Para os que dizem "Togui, põe-te a pé!";

Para os que me chamam Mini Doutor;

Para os que me chamam Doutor Portátil;

Para quem diz "Oh, ela é maior que tu";

Para quem pensa que as minhas calças lhes dariam uns bons calções;

Para quem me implora para não andar de joelhos;

Aqui vai uma foto muito especial,

Ah, pois, é mesmo à minha media (e tem mais de 1,5m)...Curvai-vos e ficai com uma marreca, ou sempre em frente e marcai a vossa testa! =P

Com toda a amizade,

Um grande abraço,



Do pelintra Togui

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mártir da Liberdade II


A multidão acercava-se,
De joelhos, sentia o cheiro da morte,
Fedia a podridão.
Insaciáveis os olhos da multidão,
Devoravam-me incessantemente.
Morte, morte, morte!
Gritavam de punho fechado.
Mães e filhos
Convertiam-se em ferozes demónios,
Aguardando a chuva das minhas gotas de sangue.
Os meus últimos minutos,
Acompanhados de náuseas,
Enquanto olhava o céu.
O carrasco acercou-se,
Acariciando o seu machado.
Pobre ofício,
"Os teus remorsos de demência,
Serão estigmas letais."
Não podia erguer as mãos,
Todas as minhas forças
Afluíam para a minha mente.
“Profere as tuas últimas palavras,
Herege!”

De olhos no céu, ri sarcasticamente,
Enquanto o reflexo do machado erguido,
Iluminava a multidão extasiada.
“Serei pior morto que caminhando entre vós,
Rudes bestas!”

Silêncio,
Eis o último som que me deleitou.


António Campos Soares (in Lascas de Uma Rocha)

terça-feira, 31 de março de 2009

Memórias de Café I - Promessas de amor eterno, leva-as o tempo...

Acordei bem cedo, um olho mais aberto que o outro, vi a janela entreaberta…Mexi os pés, estou vivo! Fiz a minha rotina habitual e fui para Braga!
Como habitualmente faço, fui tomar café…perdi-me nos meus pensamentos…
Promessas? Que promessas poderei eu fazer ao longo de toda a vida? Que estranho quebra-cabeças me envolveu.
Fazer promessas de amor eterno, que crueldade! Crueldade, pois, toma-nos o momento presente. Ficava a pensar em tudo o que teria que fazer para que uma eternidade fosse edificada e não entrasse em decadência. Senti-me angustiado. Tudo pode mudar de um dia para o outro: impérios levam séculos a atingir o seu auge, mas rápido caem, uma árvore leva décadas a crescer mas rápido é abatida.
Decidi então nunca fazer uma promessa de amor eterno. Que besta vos pareço, não?
Mas a verdade é que um amor eterno não se promete, caminha-se para ele, passo a passo. São as pequenas coisas de vida que o fortalecem, são aquelas conversas sérias ou de definhar que aumentam a cumplicidade, é a partilha de sentimentos que gera a empatia, são aqueles abraços únicos, os sorrisos e os olhares que nos fazem suspirar…Por estes fortes motivos, apenas prometo sinceridade, verdade, fidelidade e aproveitar o momento presente. É isto, sim, que não leva ao arrependimento dilacerante!
O café estava frio já, era hora de ir para as aulas…

António Campos Soares

segunda-feira, 30 de março de 2009

Onde estão os olhos de Inês?

Das muitas histórias que por aí vão passando, de boca em boca, ouvi uma, há uns tempos, sobre a povoação onde estava a pensar comprar uma casa de campo. Confesso que das vezes seguintes que lá fui mantive sempre uma atitude de observação e cepticismo relativamente a todos os pormenores que me rodeavam.
Conta-se que, nos montes que cercavam essa pequena povoação, algumas pessoas foram dadas como desaparecidas e apenas as encontravam longos tempos depois, já em estado de avançada decomposição e todas elas apresentando um peculiar e macabro pormenor. Ainda hoje, quando recordo essas descrições, sinto calafrios.
Era uma pequena povoação que vivia da lavoura, habitada apenas por duas famílias. A família Alves gozava de enormes possessões que lhe garantiam uma vida abastada. Tinham uma linda filha jovem, tez clara, longos cabelos negros e uns lindos olhos de um azul vivo, a bela Inês, menina dos olhos de Afonso, filho mais velho da família Oliveira. Os Oliveira eram uma família com cinco filhos varões. Viviam do trabalho da terra, eram os trabalhadores da grande propriedade Alves.
Afonso e Inês, desde tenra idade mantinham uma relação única. Eram como “unha e carne”. Os bosques que rodeavam a povoação foram o recreio de tantas brincadeiras de infância e, mais recentemente, o palco dos seus primeiros encontros amorosos de uma pueril paixão. Fora junto a um pequeno riacho, ladeado por uma densa vegetação e coberto por copas de carvalhos centenários, que deram o seu primeiro ósculo. Inês vestia um longo vestido branco. Afonso havia lá aparecido ao pôr-do-sol, como era habitual nos dias de Primavera e de Verão. Aquele era o seu refúgio.
O Outono aproximava-se, deixando aquele romântico lugar em repouso até aos primeiros dias soalheiros da próxima Primavera. Era uma sexta-feira e Afonso tardava em aparecer. Estranhando a ausência de Afonso, Inês decidiu voltar a casa. O sol não hesitava em despedir-se do outro lado da colina, dando um tom laranja e rosado a um céu que prometia ser estrelado.
Ao sair do bosque rumo a casa, algo não estava bem. Um grande alarido acompanhava uma coluna de fumo negro vindo das casas. Inês corre quanto pode até se deparar com um grupo de salteadores. Tudo havia sido saqueado, as colheitas queimadas, o melhor gado alinhado e pronto a ser levado. Os cadáveres dos pequenos varões Oliveira jaziam num monte, alimentando uma fogueira. Sua mãe jazia nua no chão. A senhora Oliveira deu o seu último grito de desespero depois de o seu violador a ter degolado. Seu pai estava enforcado ao lado do senhor Oliveira e, por fim, Afonso, o seu amor, já pouco dele restava. Havia sido morto para alimentar os cães de guerra esfomeados que os salteadores afagavam.
Seus lindos olhos dissolviam-se em lágrimas com todo aquele cenário, com todo aquele inferno. Estava prostrada por terra, a dor havia sugado todas as suas forças. O capataz do grupo, lentamente vai a seu encontro mas já nada lhe capta a atenção.
- Mestre, eis o acréscimo da sua parte do saque! – Diz um dos membros, limpando o sangue da sua espada.
- Preparem tudo p’ra que partamos dentro de duas horas! – Disse o mestre. Era assim que lhe chamavam. Era um homem alto, com uma enorme cicatriz forjada no rosto. Usava uma velha armadura negra com ornamentos macabros. No seu pescoço pendia uma caveira de prata.
Prendeu Inês ao seu cavalo e arrastou a inocente e pura jovem até ao bosque, até ao refúgio do amor. Uma vez lá, tratou de amarrá-la a um dos carvalhos, assegurando-se que a infeliz não escaparia. Da sua algibeira tira um conjunto de instrumentos, de tortura. Cozeu-lhe os olhos lentamente, saboreando o seu momento de prazer.
Inês chorava lágrimas de sangue, não consigo imaginar a sua dor, a sua raiva, o seu ódio, a vontade de vingança, apoderando-se de cada gota que restava ainda do seu sangue…
O mestre contemplava a sua arte, movendo a cabeça para a observar de vários ângulos. Rasgou-lhe o vestido. Inês estava nua, a virgem estava desprotegida por um acto depravado. O mestre prepara-se e, numa atitude animalesca, desflora a pobre Inês que geme com a dor provocada pela brutalidade, enquanto o seu violador desfruta de um prazer louco, como um feroz fornicador. Numa das mãos ostentava um punhal que ia deslizando sobre Inês, provocando profundo golpes que ia lambendo com a sua língua bifurcada.
Estava terminado o seu ritual, o mestre recolhe os seus haveres, corta uma trança de Inês e parte, deixando-a prostrada naquele solo, em tempos, cenário de maravilhosos momentos. O inferno havia emergido em detrimento de um paraíso construído por românticos sonhadores.
Anoitecera, Inês despertou. Era noite, mas nem com o brilhar da lua cheia ela poderia ver, suas pálpebras permaneciam cosidas. Apalpando o solo encontrou o seu vestido rasgado, que enrolou no seu corpo. Caminhou no vazio durante horas. Mas para onde? Naquele momento já nada conhecia… os seus últimos passos foram dados em direcção a uma ravina, a Ravina dos Corvos.
O corpo de Inês foi encontrado sete dias depois por um grupo de caçadores que por ali tentava a sua sorte. As pálpebras continuavam cosidas, no entanto, os olhos não estavam lá.
Dos salteadores não mais falaram…Mas quanto a Inês, bem, a sua inocência e pureza, converteram-se em ódio, raiva e vingança. Vários caçadores e lenhadores foram dados como desaparecidos e encontrados na ravina dos Corvos, com as pálpebras cosidas, desprovidos dos seus olhos.
Apenas há um relato de um monge eremita que escapou, era um estudioso de lendas e mitos que corria Portugal buscando novas histórias para compilar. Inês vestida de branco e olhos cozidos havia-lhe aparecido.
- Senhor, qual o caminho p’ra casa, por favor? Tenho frio e está tão escuro aqui… – Pergunta o espectro de Inês.
O monge sem conseguir responder, apenas aponta em direcção à povoação onde Inês havia vivido e veste-lhe um velho manto que trazia aos ombros. É então que o espectro desaparece por entre o nevoeiro rasteiro que reinava no bosque…
Mais casos foram relatados…Acredita-se que Inês apenas encontrará descanso quando alguém conseguir encontrar os seus lindos olhos. Onde estarão eles? Terá o salteador recolhido os olhos de Inês como trunfo máximo do seu saque?
Temam Inês…


António Campos Soares

quinta-feira, 26 de março de 2009

Tempo


Tempo, tiempo, temps, time, время, zeit…

Sinal da nossa condição mortal, marca do nosso envelhecimento prematuro, caminho para a insanidade profunda e perdição do alento. Quantos de nós não nos fechamos na nossa masmorra, quando pensamos no tempo ou vemos que aquele segundo, que o ponteiro do relógio arrastou consigo, não volta mais?
Aí começa a tortura, o fulminante descender do machado, a corda que aperta cada vez mais até sufocar completamente, deixando-nos como pêndulos…
Os impérios que criámos, tudo o que edificámos, desvanece, não nos imortalizamos. Rendemo-nos como débeis fracos, deixando o tempo triunfar. Tornamo-nos em frutos em pleno apodrecimento, sem sementes que garantam uma linhagem…
Pensaste todo o dia no futuro e, mesmo quando te deitas no teu leito, só pensas no amanhã.
Quando vives?
Fechas os olhos, dizendo “Até amanhã!”, mas amanhã já não é o teu tempo!
Descansa em paz


António Campos Soares


(Imgem por Quitéria Campos)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Um novo livro por António Campos!


Foram cinco anos a escrever!
Comecei em 2003. Depois de escrever letras somente em inglês, decidi começar a escrever em português. Estranha sensação, mas a língua soava bem para a poesia. Tomei-lhe o gosto, as palavras certas foram saindo....o convencional, as rimas, a métrica são assuntos que nunca me perturbaram, seguia apenas a inspiração, o instinto, a minha condição humana e as minhas aspirações empíricas.
Escrever no meio do nada, escrever contemplando paisagens, momentos, deixar que os sentimentos exalassem...Foram muitas as noites em que acordei, ainda apoderado pelo sono, e escrevi, lendo apenas aqueles versos na manhã seguinte: a receita resultava. As mesas de cafés boémios, o Albaicin e as ruelas escuras do palco da última conquista cristã da Península Ibérica, foram-me inspirando nas últimas criações.
Um confronto entre o bem e o mal, a luta entre a nossa frágil condição mortal e a imortalidade, ser o advogado do diabo, algumas vezes, o amor e a dor, a morte, a angústia, a nostalgia, a perda, e a solidão serviram-se de mim como um campo de batalha e, eis que o resultado será publicado nos próximos meses, num livro intitulado Lascas De Uma Rocha.
O livro contém 31 poemas:

O Início
A Nova Criação
O Fim do Demónio
Peste
Discipulus Mortis
Vagabundo
Guerra
Abismo
Velha Amiga
Mártir da Liberdade
Egoísmo
Caveira
Ciclo
Eternidade Solitária
Ruela da Morte
Espada de Dois Gumes
Não Quero Ser um Anjo, Quero Ser Deus!
Quando Não Vivo!
Soldado
À Deriva
Homo Lupus et Luna
MORS
Sete Anos Como Meu Anjo
Para o Meu Irmão
Minha Irmã, Novo Laço
Passado Presente
Arrependimento
Quem és?
A Procura
Navio Ancorado (Para Sempre?)

Mártir da Liberdade II

Eis a receita! Obrigado a todos os que me apoiaram e aos que me apoiarão também no futuro!

António Campos Soares