quarta-feira, 21 de julho de 2010

Biblioteca Municipal de Coimbra



Viva!
Se alguém quiser, já poderá ter acesso à minha obra Lascas de uma Rocha na Biblioteca Municipal de Coimbra.
Passem por lá e divulguem!
Bem hajam!



António Campos Soares

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Fatalidade aroma

- Até logo! – disse ao fechar a porta, depois do jantar.

Afirmava para si mesmo, sozinho, ter terminado o seu vício, a sua obsessão, mas o faro levava-o aos mesmos recantos.

Caminhava nos mesmos becos por onde andou, sentava-se nos mesmos bancos onde, noutros tempos, também tinha repousado e observado.
No entanto, já não trazia os utensílios consigo, apenas as mãos nos bolsos, ou soltas quando as passava freneticamente no cabelo, sempre que se sentia perdido.

Orientava-se quase de olhos fechados, estímulos do passado, reanimando o seu subconsciente, quase esquecido ou reeducado. Mas o faro, o aroma, era, pois, a maior das tentações, era a voz que o clamava, reavivando todas as memórias, dando incentivo à obsessão…esse aroma, abrindo um álbum de memoires, há tanto e tão profundamente enterrado e selado.

Ela passou, formosa e elegante. Cabelos soltos e longos libertando o seu feminino aroma em direcção ao seu nariz, despertando nele os estímulos mais carnais que a sua condição poderia revelar.

Fixou nela o seu olhar e ela nele. Uniram-se num laço sem pontas. Uma atracção mútua no ar, num ambiente ofusco, de excelência excitante e extasiante, rumo a um desconhecido acto de prazer inebriante que poderia acabar num ninho de lençóis frescos.

Ele levantou-se em direcção a ela, que estranhou, esperando apenas o flirt de um estranho perdido naquela fria noite de Inverno.

Ele inspirava e suspirava como um aperitivo, ela apaixonava-se com os suspiros, sorrindo-lhe. As luzes dos candeeiros de rua tremiam.
Pararam e, novamente, olharam-se profundamente, um olhar de cordeiro, encontrando conforto, um olhar de lobo, encontrando a presa delicada perfeita.

No momento do beijo, quente e esperado, em que lhe acariciava o pescoço terno e suave, as suas mãos viris imprimiram uma força animal, enquanto a puxava cada vez mais para si, num apertado abraço, inalando todo o aroma exalado pelo medo.

Ele respirava e agarrava-a cada vez mais, até ao último espernear, até ao último gemido e, assim, foi até o corpo dela arrefecer nos seus braços. Sentou-a no banco, de onde tinha fixado, passou-lhe um lenço pelo rosto, cheirou-lhe os cabelos pela última vez e despediu-se dela, atirando-lhe um beijo, o seu único beijo…na mão, o lenço, contendo o aroma da efémera…

De volta ao lar, deita-se no leito, deixando suavemente o lenço estendido a seu lado. Dorme profundamente, enquanto gela o cadáver, apreciando a sua última noite de Inverno.


António Campos Soares

sábado, 3 de julho de 2010

Cíclico?

O Barroco é estilo profundamente definido pelo horror do vazio e simplicidade, no entanto, hoje vou pegar noutro aspecto do Barroco!
Vamos analisar a sociedade, o público, em geral, relativamente ao meio artístico. Considero que o número de alnalfabeto (ou analfabrutos também, digo eu e outros também, com toda a certeza) culturais tem aumentado fulminantemente.
Este público fica-se por aquilo que é demasiado fácil (se apenas fosse fácil, considero que o mal seria bem menor), por aquilo que não faz pensar, pelo fútil, pelo inútil, pela standardização de ideias, sem que se levante uma única questão do sentido das coisas. Aceita-se e dão-se por satisfeitos!
Revolto-me quando vejo projectos geniais esquecidos ou obrigados a fugir desta terra tenebrosa, onde reina a ignorância e os carneiros seguem as directrizes daquilo que todos fazem, daquilo que não é apontado como "não tem jeito nenhum", deixando o gosto, o prazer, o deleitamento no esquecimento! Dói-me trabalhar e ver que o prazer apenas é aproveitado por poucos, pois, os muitos não querem ter o trabalho de pensar e descobrir, preferem barrar sempre a mesma manteiga, da mesma maneira, no pão, em vez de experimentar provar o pão com outras coisas!
Preferem pagar balúrdios por um jogo de futebol do que andar 10 minutos a pé e ver um concerto ou um teatro gratuitamente, ou dar 2,5€ por um espectáculo culto.
Preferem ver pernas a abanar em cima de um palco de miúdas que desgraçadamente as exibem, em trajes menores horríveis, por vezes em gélidas noites de Inverno, do que algo realmente tradicional. Continuam a fazer da mulher um objecto e babam-se os ignorantes que quanto mais perto se puderem chegar do palco melhor.
Revolta-me esta profunda ignorância que marca este país, que não sabe ou não quer andar para a frente, abrindo novos horizontes e prefere continuar a viver nas profundezas do passado e deviam vir por aí alguns salazares e arrumar com este malta nova que anda para aí com ideias malucas!
Que propôr para tudo isto?
Bem, teremos que arranjar uma maneira para aplicar três importantes conceitos do Barroco, cuja sociedade também era analfabeta (por não saber ler e escrever, mas aberta para receber as novas artes): docere, delectare et movere!
Precisamos de investidas fortes que permaneçam!
Artistas e aspirantes a artistas, amantes e apreciadores das artes, mecenas de todo o lado, que vos parece a ideia de uma alfabetiação cultural, ao nosso bom gosto?
Bem hajam,


António Campos Campos