Joane, 6 de Fevereiro de 2012
Durante o jantar, a minha irmã Ana apontou para o retrato do meu avô materno que estava na parede.
- É o avô, Ana! - Disse a minha mãe.
Eu estava a meter uma garfada de comida à boca e levantei ligeiramente o olhar para a minha irmã.
- O avô Guilherme? - Perguntou a Ana.
- Não, este é o avô António. É o meu pai. - esclareceu a minha mãe
A Ana olhou para mim, associando o nome.
Arranjei uma desculpa para ir à cozinha. Falar do meu avô com toda a minha família à volta provoca-me uma nostalgia ainda maior. No entanto, apesar de estar na cozinha continuei atento à conversa.
- Onde está o avô António? - Perguntou a Ana.
- Tu sabes, Ana, já te expliquei.- respondeu a minha mãe.
- No cemitério? - questionou a minha irmã astutamente.
- Sim, o corpo está no cemitério e a alma foi para o céu para a beira de Jesus. - explicou a minha mãe.
- No céu? Com Jesus?
- Sim...
- Vamos rezar, mamã! - pediu a minha irmã.
Enquanto rezavam, entrei na sala de jantar, pensando que a conversa terminaria ali.
- Olha, mamã, o avô está a rir para mim! - disse a Ana, apontando entusiasmada para o quadro.
- Mas não dá para ver muito bem isso nesse quadro, Ana. - Disse a minha mãe.
- E quando vem o avô? - perguntou a Ana.
- Vem um dia, Ana. - respondeu a minha mãe.
- Um dia!?... - e a Ana ficou a divagar e a imaginar.
O quanto eu gostaria de saber o que significaria para a minha irmã, Ana, esse "Um dia"...
Um abraço, avô...
António Campos Soares
4 comentários:
O seu texto emocionou-me, fez-me lembrar uma situação semelhante que se passou comigo há largas décadas. A minha irmã mais nova, na altura mal sabia falar, ao passar na rua por um idoso manifestou-se com um "olha o vô...". Esta situação foi deveras estranha dado que ela tinha nascido aproximadamente um ano após a morte do nosso avô. Fez-me pensar na forma como as crianças interpretam o mundo que as rodeia, e a sua perspicácia que tantas vezes nos impressiona.
Um bem-haja.
Grato pela partilha de sentimentos.
De facto, não deixo de me surpreender com a minha irmã e confesso que invejo a imaginação e os caminhos por onde ela divaga.
Um abraço,
António Campos Soares
Obrigado por este texto. Obrigado por me fazer, de uma forma tão simples e tão bonita, relembrar essa imaginação e fantasia de criança que tenho saudades de sentir.
Um abraço! :)
Fiquei imensamente contente com as tuas palavras, Rui =)
Senti o mesmo com tu à medida que ia ouvindo as palavras e manifestações da minha irmã...
É bom sentir que fomos assim um dia e que há situações que no relembram isso...melhor ainda é encontrar momentos em que é possível sermos uma "criança" cheia de imaginação de novo =)
Abraço!
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