07.08.1999
Havia sido mais tarde daquele Verão passada no IPO do Porto. Como nos últimos meses daquele ano era habitual, apanhava o expresso, junto ao Café Central, com a minha avó e lá íamos passara o dia ou a tarde com o meu avô. Ao final da tarde ou à noite, ia-nos buscar o meu pai e a minha mãe.
Naquele dia, o meu avô estava apagado, não falava muito, estava amarelo e com um rosto que imanava tristeza. Todos aqueles tubos afluíam para ele. Eu estava de joelhos ao lado da cama, acariciando-lhe a mão, esperando algumas palavras ou uma história, mas não vinha nada da boca dele. Apenas um olhar perdido e sem brilho que vagueava pela enfermaria.
Era um sábado e jogava o F.C.P. contra o Beira Mar.
Partimos e o meu avô tinha ficado a ver o seu clube jogar, como sempre tinha gostado.
Em casa, depois do jantar, o telefone tocou, parámos todos, imaginámos o pior, mas era ele, pedindo desculpa por não ter falado, disse que nos amava e depois a enfermeira disse também que ele tinha ficado contente por ter visto o seu clube vencer.
Todos se deitaram mais aliviados.
08.08.1999
Às sete da manhã o telefone tocou.
Não me lembro quem atendeu e houve gritos e choro.
Com dez anos e embrulhado em lençóis de sonhos e pueris ilusões, virei-me para o outro lado da cama, fechei os lhos com força e tentei voltar a adormecer a todo o custo. Quis acreditar piamente que era tudo fruto de um pesadelo, como ocorria habitualmente, mas a minha avó irrompeu pelo quarto a chorar, abraçando-me e ouço o meu pai de cabeça baixa, junto à porta “Filho, o teu avô faleceu”. Dissipou-se, então, bruscamente, qualquer réstia de esperança que estivesse ainda adormecida em algum cantinho da cama e chorei, ainda choro...
Ainda hoje continuo, em muitos dos meus momentos de divagação e sonhos despertos, perdido no tempo, entre o século XX e o século XXI, à espera que alguém me acorde de maneira natural de volta para os meus dez anos, no verão de 1999. Até já, avô…
António Campos Soares
1 comentário:
Ai...
Encheste-me os olhos...
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