Ele nunca disse nada, não porque as palavras fossem
poucas ou porque sofresse de mudez em determinados momentos. Não disse, nem
dizia, porque, no seu entendimento, não deveria afectar as decisões ou as
acções das pessoas que o rodeavam. Este era o seu meio de respeitar a liberdade
total de quem conhecia.
O seu silêncio de liberdade era considerado muitas vezes
como uma apatia profunda e estagnação emocional. Na verdade, tinha os seus
momentos de apatia e solidão por ser incompreendido, no entanto, também
compreendia as pessoas e estava consciente da condição de repressão
sentimental. Ele próprio havia diagnosticado essa patologia em si mesmo.
Muitas vezes não falava porque não lhe perguntavam e não se lembrava de que às vezes era necessário ceder.
Muitas vezes não falava porque algo o prendia bem lá
dentro.
Mas ele não era apático. Ele adorava as pessoas e queria
conhecer sempre mais pessoas e, de facto, conheci-as, mas os quilómetros de
distância eram uma constante sempre que conhecia alguém. Muita gente pensaria talvez que seriam as
pessoas erradas, mas isso foi algo que nunca lhe ocorreu. Ele próprio havia
sido desde sempre uma deambulante, aqui e ali, sem um lar fixo, pois qualquer
sofá poderia ser o seu lar perfeito.
Um dia apoderou-se dele uma enfermidade
gravíssima e foi aí que tudo começou a desabar, tornou-se um desgraçado mendigo de emoções que não sabia processar ou expressar. O seu mundo já não era o mesmo. Uma
fobia social foi-se apoderando dele. Já não falava em público. Já não caminhava
de cabeça erguida. Os seus projectos já não saiam mais do pensamento, a vontade
estava perdida ou esquecia-se sempre dele para onde quer que fosse e isso era o que mais o dilacerava e os seus olhos estavam baços como nunca haviam estado,
tinham perdido o brilho de tantas lágrimas que tinham salgado a pele áspera do seu rosto e, em consequência
disso, a visão havia-se deturpado, vendo apenas sombras em alguns momentos.
Um dia, estando a passear numa falésia, tentando
encontrar respostas, aproximou-se demasiado do limite e, esquecendo a sua
vontade viver, caiu e não mais foi visto. Quero acreditar que encontrou
conforto naquele mar imenso tão salgado quanto as suas incontáveis lágrimas.
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