quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Cenas
Nessa altura, eu comprava as chicletes Gorila em pacote (Quando podia ou quando juntava uns trocos para tal) e metia tudo de uma vez à boca, em primeiro lugar para ter um sabor super intenso e depois para conseguir fazer uma bola maior do que a minha cara!
Hoje, encontrei um pacote de chicletes lá por casa e, pois bem, meti as chicletes todas de uma vez à boca. Reidicúlo ou não, soube-me mesmo bem; mastigar rápido para sentir todo o sabor e depois, lá fui eu para a escola, no carro, a tentar fazer bolas gigantes, a mastigar até que me doessem os maxilares! =)
António Campos Soares
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Crescemos?
Depois de tempos de fanatismos em busca de protagonismo, de corrupção e esquecimentos dos outros…
Passados séculos a instigar guerras na busca de glória e provações, sim, crescemos e seremos ainda maiores…
Recordaremos com angustiante nostalgia os tempos de liberdade, sofreremos ao recordar os tempos em que respirar não sufocava porque respirar era inerente à vida, não queimava as nossas entranhas…esse vindouro tempo não será tempo nem para descanso, nem a própria noite será o leito para recuperar as forças para o dia seguinte, nem para prazeres…
Viveremos na decadência, seremos seres ainda mais efémeros, mais débeis, mais frios, irracionais e seremos maiores, ainda assim…
Seremos tão grandes que nos curvaremos, até voltarmos às origens e talvez percamos a faculdade de articular sons e falar…e seremos maiores…
Até o dia em que alguém se aperceba que afinal substituímos Atlas e, na verdade, não estamos maiores, mas carregamos o peso daquilo que adulterámos!
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Mentalidade e Cultura Portuguesa II
A accção dos elementos intellectuaes revela-se no sucessivo engrandecimento da personalidade humana. Hoje a força suprema, é a força moral, a força das ideias (...)."
in Politica Nova - Ideias para a reorganização da nacionalidade portugueza, Alves da Veiga, 1911
domingo, 21 de novembro de 2010
Memórias de Café XI - O lado afortunado da vida é ter a amizade como bonança...
Instituto Missionário Coração, Coimbra, 2004
Estava eu no 11º ano, no seminário. As minhas dúvidas vocacionais arrastavam-se já há dois anos, mas sentia-me bem ali. A minha fé estava cada vez mais abalada, mas estava bem ali. Sentia-me bem em família. Sentia-me acolhido.
Apesar de todas as dúvidas que me tiravam o sono, eu tinha uma certeza: naquele ano eu iria formar uma banda a sério:
“P’rós lados da música esta merda está a correr muito bem...e já tenho um início de uma banda. Eu e o Nemo somos os leaders.
Constituições: voz: Pedro
Guitarra solo: António Soares
Guitarra Ritmo: Antonino
Baixo: Xavier???
Bateria: João Pedro???
Os primeiros concerto serão capazes apenas de ser acústicos. Tipo, duas guitarras acústicas e voz. Começamos pelos bares. Penso que o primeiro dos melhores concertos vai ser na escola da minha mãe porque vai ter todos os instrumentos essenciais para o rock. Vai ser espectacular. É só preciso dedicação....o melhor do rock vai explodir.” (03-10-2004)
Foi aqui que tudo começou. Éramos os Lost Soul, o Xavier e o João Pedro tinham alinhado. Quatro putos inocentes em busca do estrelato, num sonho infinito, dentro das quatro paredes do Basófias que, por sua vez, estava dentro das quatro paredes do seminário. No entanto, o nosso sonho foi mais longe. Apesar da troça dos colegas que nunca acreditaram em nós, apesar das “bocas” dos formadores, não desistimos. Alguns, mais influenciáveis às vezes tremiam mas, sempre que foi preciso, puxámos uns pelos outros.
Comecei a vestir preto, a deixar crescer a pêra, a javardar, a minha mente foi-se abrindo...olhei para tudo de outra maneira, foi aí que também comecei a adorar o que escrevia, tanto a nível de poemas, como músicas que ia compondo, foi aí que começamos, eu e o João Pedro, a seguir o culto da cerveja.
Os nossos Domingos eram marcados pela passagem no Cartola para encanar “dieseis” e cerveja à socapa. Tinha que ser assim, pois, no seminário também havia gente execrável, capaz de tudo para cair nas boas graças do Sr. Padre.
O Nando juntou-se à banda como percussionista...o destino vai juntando todas as peças!
A nossa primeira actuação caseira foi lá no seminário, no festival Capa Negra. Tocámos a nossa rockalhada com letras espirituais. Não me soube a nada e pelos visto, o que todos queria era um pouco de manteiga para barrar o pão. Também outra coisa não se podia esperar.
O ambiente começou a piorar depois das férias da páscoa de 2005...
Se o lado afortunado da vida é ter amizade como bonança, então, é essencial saber qual a medida ideal da bonança. Interpretem como quiserem, mais não digo, não vale a pena desenterrar venenos de há tanto...
O Pedro foi expulso da banda, pois, uma banda não anda para a frente com gente que só está lá para o estilo, para ter miúdas e beber umas copadas!
“Quanto à banda, nós queremos mandar o Pedro embora porque não tem os requisitos que nós queremos e porque não sabe nada de música, não escreve uma letra, não compõe uma música, não canta uma múscia em condições, não toca nenhum instrumento.” (09-05-2005)
O Nando substituiu o Pedro na voz, passámos a ser os Lightning Shadows. Aí sim, começou o que viria a ser uma espectáculo pelos três anos seguintes: amizades fortes, bons concertos, grandes momentos, borracheiras de caixão à cova, miúdas “tolas” pelo "man" da guitarra, da bateria, do baixo ou da voz...desde que fosse músico, era capaz de seduzir qualquer miúda. O quanto me ri às custas disso...
Demos o nosso primeiro concerto em 2005, na escola onde acutalmente lecciono espanhol e onde voltei a tocar no presente ano, mas isso é outra conversa!
No dia em que íamos dar o concerto estávamos a passear pela escola e gravar um vídeo de recordação, até que ouvimos alguém “Olha, queres ver? Vinde cá que ides levar duas chapadas cada um...”. Era uma funcionária da escolha que vinha atrás de nós pensando que a estávamos a filmar a ela. O Xavier fechou a câmara e demos de frosques às gargalhadas.
Didáxis, Vale São Cosme, 08-07-2005
“Finalmente (...) à tarde voltámos à escola mas, nesse dia, íamos ter o último ensaio e finalmente o concerto. (...) O concerto foi curto mas correu pelo melhor. Repertório:
American Idiot, Green Day
Dunas, GNR
Lost Soul, Lightning Shadows
Knockin’On’Heaven’s Door, Bob Dylan
Apresentação da banda com a Last Resort
When I come around, Green Day
Terrible Silence, Lightning Shadows
Queda do Império, Vitorino”
Obviamente que, naquela altura, todos excitados, não vimos nada de mal no concerto, tudo tinha sido perfeito, mas agora, ainda nos rimos muito com os nossos pregos. Lembro-me perfeitamente do João Pedro a resmungar com a bateria por esta estar a deslizar “Oh filha da p***...”Ouvi-o melhor a ele do que à minha guitarra!
No dia seguinte acordámos de manhã, no sótão de minha casa, com o João Pedro agarrado aos tomates, à janela, enquanto simulava disparos sempre que via um pássaro a passar! WTF!!!???
Nesse verão voltámos a tocar, mas em Carvalhosa. Deixámo-nos pagar o sistema de som. No entanto, tudo o que queríamos era tocar e encantar. E quem nos safou sempre foi o padre Humberto, que eu considero como um grande amigo e mentor. Não será demasiado dizer que se não fosse ele, nenhum destes cinco putos seria o que é hoje!
Carvalhosa, 27-08-2005
“...No dia 25 e 26, foram ensaios p’ro concerto de Carvalhosa. Finalmente, no dia 27, foi o grande concerto dos Lightning Shadows. Eu estava excitado com tudo. Eram duas da manhã e já o público ‘tava freneticamente à nossa espera e foi então que, com uma distorção vinda do meu amplificador, soaram os primeiros acordes da música When I Come Around dos green Day. O público foi ao rubro. Tocámos doze músicas:
When I Come Around, Green Day
Lost Soul, Lightning Shadows
The Reason, Hoobastank
Terrible Silence, Lightning Shadows
Dunas, GNR
Why, Lightning Shadows
Like a Puppet in Your Hands, Lightning Shadows
Last Kiss, Pearl Jam
Nothing Man, Lightning Shadows
Maria Albertina, António Variações"
Foi fantástico ver o mosh e ver o pessoal a saltar. A melhor sensação foi quando eu ouvi o público a tentar cantar os refrões das nossas músicas. Senti mãos a serem passadas nas minhas All Star pretas quando me cheguei mesmo à frente do palco. (...) Foi nesse concerto que eu senti mesmo o que tinha uma banda e que aquilo se tinha tornado para mim um objectivo. Somos como irmãos!”
O lado afortunado da vida é ter a amizade como bonança...Bem o dizes, João Pedro!
Tinha sido, na verdade, um grande concerto, mas não o melhor da carreira dos Lighnting Shadows.
As férias do Verão de 2005 tinham acabado, eu tinha saído do semiário, mas eles voltaram para lá, eu fui para o liceu de Joane.
Nesses meses que iriam até ao Verão de 2006 fomos ensaiando na Fábrica de Som, no Porto e íamos sonhando, divangando, compondo, vivendo e javardando, sem nunca deixar de ser bons rapazes, ou não!
Falando de bons rapazes, na verdade, éramos e continuamos a ser, no presente, apesar de a banda ater cabado, bons rapazes. Orgulho-me de dizer que nunca consumimos qualquer tipo de droga enquanto banda, quanto ao resto, já não é da minha conta, no entanto, enquanto banda, eu certificava que o consumo desse tipo subtâncias não ocorria.
O auge dos Lightning Shadows ocorreu entre Setembro e Novembro de 2006.
O Verão de 2006 parecia um deserto, nada de concertos, poucos ensaios, o Antonino, por motivos pessoais decide abandonar a banda, estávamos a desaniamar...mas, mais uma vezes, fomos convidados para tocar nas festas da terrinha, por 200€. Naquela altura, aquilo pareceu-nos algo que nos poria ao nível de estrelas rock.
Foi nas festas em honra de São Bento, em Joane, num palco montado em cima de uma campo de couves, pois é! Na verdade, tínhamos um óptimo som e correu tudo pelo melhor. Tínhamos acrescentado a All The Small Things (Blink 182) e o Vira-Vira (Momonas Assassinas) ao repertório. O Vira-Vira passou a ser um dos nossos melhores covers e o público ria-se sempre quando eu fazia a parte do Herman. Imagine-se lá o esforço que eu não fazia para estar sério!
Foi fantástica a sensação de fazer 18 anos em cima de um palco...
No entanto, o verdadeiro momento da noite não foi esse. Umas duas semanas atrás quase fomos expulsos de Carvalhos, onde nos tinham prometido uma nova actuação, mas festeiros na vinhaça é o que dá.
Os nossos amigos de lá ficaram desanimados por não haver concerto, no entanto, mal confirmámos em Joane, avisei-os. Não tive uma única resposta.
“Cagaram p’ra nós, de certeza...”
Querem saber o que aconteceu? Caiu-me tudo...
Engoli estas palavras quando estava a tocar a Terrible Silence, em Joane, olho para o público e, afinal, eles apareceram, estavam lá com a mesma energia do ano anterior. Foi das melhores coisas que senti desde que ando pelas ruas da música.
No fim desse concerto, um sujeito vem ter comigo e diz-me “o que vos falta é gajas, gajas jeitosas a mostrar as pernas p’ra chamar povo”...Enchi-me de ascos, nojo, pejo, vontade de partir a cara àquele sujeito. Não desci de nível.
Um mês depois abrimos o concerto para a banda dele...O quanto eu me ri à pala deles. Nesse concerto, em São Martinho do Vale, fizemos um video da Nothing Man. Sim, esse video onde as miúdas berram por mim. Adoro quando o pessoal se junta e nos rimos de tudo o que passámos...
Mas antes disso, fomos convidados por uma lista do Liceu de Joane para tocar no Contempl’arte, no dia 31 de Outubro de 2006. Sabem que mais?
Este foi o nosso melhor concerto! Partimos tudo! Duzentas e tal pessoas para nos ver. Mal nos podíamos mexer. O público invade o balcão, sobe para as mesas, a casa é completamente nossa! Acabei a noite completamente bêbado com o João Pedro, ambos a javardar e a chatear o Picasso, dono do Contempl’arte!
No dia 15 de Junho actuámos no Liceu de Joane, nada de especial!
No ínicio do Verão de 2007, participámos num Tributo a Nirvana, realizado no mesmo bar com os Cratera e com os Ketamina. Outro concerto para arrasar, mas pela primeira vez na vida, tocámos todos bêbados, excepto o Xavier. O Nando já não atinava com as letras “lalalalala”, eu fiz o solo da Smells Like Teen Spirit com um garrafa de cerveja que tinha acabado de beber e o João Pedro, no fim, aterra atrás da bateria.
Esse foi o nosso último concerto! No entanto, a banda só se viria a espartilhar no final do verão de 2007, por motivos pessoais de cada membro!
Contávamos com 5 originais:
Nothing Man (letra e música por António Soares)
Lost Soul (letra e música por António Soares)
Why (letra e música por António Soares)
Terrible Silence (letra por António Soares e música por Antonino Sousa e António Soares)
Puppet in Your Hands (letra por Nando e música por Antonino)
Mais do que uma mera banda, fomos e somos ainda um grupo de amigos!
O Pedro, dizem que saiu do seminário no fim do 12º ano e foi para a universidade, a partir daí, desapareceu do mapa.
O Antonino, continua na vida religiosa, está actualmente no segundo de teologia na Universidade Católica, em Lisboa.
O João Pedro, no Verão desse ano, envereda no exército. Actualmente frequenta a licenciatura de Ciências da Educação.
O Xavier lincenciou-se em Ciências da Educação. Neste momento está em mestrado.
Para não fugir à regra, o Nando, ingressa também em Ciências da Educação, na Universidade do Minho, no entanto, ainda participou em alguns projectos comigo. Actualmente, já licenciado, está no mestrado em Recursos Humanos.
Quanto a mim, em Setembro de 2007, fui fazer Erasmus para Granada. Actualmente, formado em Línguas Aplicadas, sou professor de espanhol e alunos da Licenciatura em Línguas e Literaturas Europeias. Sou também docente de EMRC.
Eu e o Nando temos um projecto em comum, os ArtLeak!
Coma alcoólico…
O lado afortunado da vida é ter a amizade como bonança...
Fecho os olhos, em coma, vendo como a minha insanidade avança…
Tornando-se escuridão que encobre a luz d’uma vela acesa.
Luz da felicidade, que nunca irei alcançar …por fraqueza!
Sou espantalho animado por realidades inteligíveis…
Acordo ressacado deste pesadelo chamado Vida, asfixiado por sonhos inatingíveis…
Vivo num mundo de quimeras onde esqueço que sou um odiável comodista,
Sou um monstro… uma espécie de anjo “psicomasoquista”.
Se deus existe… que arda comigo no inferno!
Somos fruto da Primavera apodrecidos por este obscuro Inverno…
Procurando o antídoto para a minha inata crueldade…
Apenas engulo lágrimas provocadas pela injusta e confusa realidade…
Onde danço, paralisado, melodias de um distante e inocente passado.
O álcool é um machado, e eu que era o carrasco, estou agora decapitado.
Nesta psicológica guerra onde sou o único soldado,
Resta-me aguardar calmamente o momento de ser sepultado…
Dedicado ao melhor amigo do mundo…
(poema por João Pedro)
Biografia por António Campos Soares
terça-feira, 16 de novembro de 2010
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Memórias de Café X - Conversas que já lá vão
Lembro-me de jogar às escondidas, de fazer corridas, de preparar o recreio para jogar à carica, de coleccionar as caricas mais espectaculares para competir com os meus amigos, mas não me lembro das conversas.
As crianças estavam sentadas na beira de um muro, conversavam, riam-se, faziam caretas…mas de que falariam? Senti-me curioso!
Tentei, em vão, ir ao mais recôndito cantinho da minha memória buscar algo…
Depois, olhei mais abaixo, lá estavam os alunos mais velhos. Aí sim, lembrei-me das conversas em que se partilhavam experiências, namoriscos, aventuras das férias, miúdas que conhecia, coisas que fazia à socapa, dos meus amigos que, ainda que nos vejamos poucas vezes, rimos até chorar das peripécias de outros tempos….Arriscaria a afirmar que quase as eternizámos já de tantas vezes que as contámos!
Voltei a olhar para as crianças que ainda conversaram e sorriam e, apesar de me continuarem a falhar as memórias daqueles tempos pueris, senti-me capaz de depositar o futuro do mundo naquela felicidade que, espero eu, o tempo não apague…
Soou a campainha, o recreio foi ficando vazio, era hora de ir dar aula….
António Campos Soares
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Memórias de Café IX - Caixa de Recordações
Lembro-me de preparar todas as malas, com tudo o que pudesses levar…
Lembro-me do friozinho no estômago, não de arrependimento, mas de ansiedade e expectativa…
Lembro-me de me despedir de pessoas e de as ver chorar…
Lembro-me do carro cheio, com todas as minhas tralhas, de me despedir da minha avó que tentava não chorar e de olhar para casa como um “adeus!”
Mas ainda faltava algo que não podia ficar para trás todos aqueles meses e voltei para a minha saleta, onde estão todas as minhas pequenas coisas, memórias, livros, objectos pessoais, para pegar na caixa de recordações: papéis com anotações do meu avô, fotografias de todos os tempos, bilhetes dos concertos que assisti no Contempl’arte e recordações e pessoas a eles associados, cartas, montes de cartas com fotografias de paixões dos tempos de seminário ou amores de Verão, coisas da minha adolescência…Faltavam cinco minutos para partir!
Ao chegar ao carro, com caixa das recordações na mão, parei, encolhi os ombros e voltei para trás, acomodei a caixa onde ela costumava estar e regressei a correr para o carro….Sozinho!
Todos os momentos que passei em Granada, até os mais solitários, nunca senti saudades, não havia nada para abrir de onde saltassem frenéticos momentos de nostalgia que corroessem, não foi egoísmo, mas sim uma protecção. Todos esses momentos tinham ficado em Joane, no seu cantinho, a minha família estava bem, tranquila, quase aumentada pela pequena Ana que mostrava energia já dentro do ventre, os meus amigos seguiam a sua vida e eu vivia totalmente entregue aos encantos de Granada!
Joane continuava cá com tudo o que lhe pertence, a 1200km de distância, que nem nos sonhos percorria e eu recolhia memórias, milhares de memórias de Granada, dos pessoas, dos bares, das ruas, do Albaicin e apenas libertei lágrimas quando tive que regressar, para junto da caixa das recordações, agora, mais completa do que nunca.
António Campos Soares
terça-feira, 2 de novembro de 2010
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Memórias de Café VIII - Despertar violento
Havia sido mais tarde daquele Verão passada no IPO do Porto. Como nos últimos meses daquele ano era habitual, apanhava o expresso, junto ao Café Central, com a minha avó e lá íamos passara o dia ou a tarde com o meu avô. Ao final da tarde ou à noite, ia-nos buscar o meu pai e a minha mãe.
Naquele dia, o meu avô estava apagado, não falava muito, estava amarelo e com um rosto que imanava tristeza. Todos aqueles tubos afluíam para ele. Eu estava de joelhos ao lado da cama, acariciando-lhe a mão, esperando algumas palavras ou uma história, mas não vinha nada da boca dele. Apenas um olhar perdido e sem brilho que vagueava pela enfermaria.
Era um sábado e jogava o F.C.P. contra o Beira Mar.
Partimos e o meu avô tinha ficado a ver o seu clube jogar, como sempre tinha gostado.
Em casa, depois do jantar, o telefone tocou, parámos todos, imaginámos o pior, mas era ele, pedindo desculpa por não ter falado, disse que nos amava e depois a enfermeira disse também que ele tinha ficado contente por ter visto o seu clube vencer.
Todos se deitaram mais aliviados.
08.08.1999
Às sete da manhã o telefone tocou.
Não me lembro quem atendeu e houve gritos e choro.
Com dez anos e embrulhado em lençóis de sonhos e pueris ilusões, virei-me para o outro lado da cama, fechei os lhos com força e tentei voltar a adormecer a todo o custo. Quis acreditar piamente que era tudo fruto de um pesadelo, como ocorria habitualmente, mas a minha avó irrompeu pelo quarto a chorar, abraçando-me e ouço o meu pai de cabeça baixa, junto à porta “Filho, o teu avô faleceu”. Dissipou-se, então, bruscamente, qualquer réstia de esperança que estivesse ainda adormecida em algum cantinho da cama e chorei, ainda choro...
Ainda hoje continuo, em muitos dos meus momentos de divagação e sonhos despertos, perdido no tempo, entre o século XX e o século XXI, à espera que alguém me acorde de maneira natural de volta para os meus dez anos, no verão de 1999. Até já, avô…
António Campos Soares
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Memórias de Café VII - Há uma necessidade...
Há uma necessidade tremenda de ficar acordado, e marcar os segundos com palavras, as horas com poemas, a noite com criações.
Há uma necessidade enorme de não adormecer, por haver mais um verso para escrever, mais um pensamento para libertar.
Há uma necessidade inquestionável de sentir o frio da noite a entranhar-se corpo adentro, enquanto vagueio, relembrando façanhas de outros tempos, ditando divagações que me mantêm acordado.
Há uma necessidade desmedida de encarar a noite com livros intemporais, em diálogos imaginários com Eça, Camilo, Quental ou mesmo Poe.
Há uma necessidade inviolável de partir, sem destino, sem saber onde verei o amanhecer.
Há uma necessidade calada de dormir, há tanto para fazer, tanto para descobrir e partilhar.
Há uma necessidade extrema de ficar aqui….e escrever até sucumbir à fragilidade humana de cair nos braços de Morfeu.
António Campos Soares
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Memórias de Café VI - Coca-Cola com 7UP
terça-feira, 5 de outubro de 2010
A Gota
Não raras vezes, desejei já ser uma gota de água.
Este desejo realizaria a minha aspiração de imortalidade.
Passaria por vários estados, experimentaria inúmeras sensações, encarnaria os mais antagónicos sentimentos: seria parte de um iceberg, onde algum barco colidiria, ou do bloco de um iglu, conheceria os pólos, veria as auroras boreais, ou então, seria parte de um cubo de gelo na bebida de alguém, em qualquer parte do mundo; fundir-me-ia, percorreria todos os oceanos, veria as mais monstruosas ou delicadas criaturas, seria caudal dum rio, surgiria da nascente mais cristalina, em algum sítio totalmente virgem, mataria a sede, ou poderia até ser ignorado…evaporar-me-ia numa poça, num deserto, ou até do bule de alguém que quis fazer chá…
Que fantástico seria ver o mundo lá de cima, seria como um deus, não pagaria para voar, saberia o que realmente é estar nas nuvens, seria parte de uma, seria parte do sonho e das divagações de alguém, seria desejo de povos e realizaria preces de desespero…
Um dia cairia, de volta para a terra…poderia experimentar a adrenalina de uma tempestade, acompanhado de um relâmpago, dançar com o vento, rasgar o céu e sentir-me dispersar no impacto bruto com o solo. Cairia numa chuva passageira e percorreria um corpo, provocando arrepios causadores de loucura a alguém que me beberia, ou me limparia, seria uma gota de suor num corpo nu acabado de fazer amor.
Seria lágrima de alegria, ou de angústia de alguém que perdeu, seja qual for a sua perda, seria a gota que faria um copo transbordar numa pândega de amigos, seria escarros de insatisfação na mais justa das revoluções, ou parte do plasma de uma gota de sangue derramada em nome da honra…
Poderia ser parte de qualquer ser, racional ou irracional…
Poderia ser livre, poderia ser TUDO!
António Campos Soares
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Memórias de Café V - Relembrar Granada I
Son las cinco de la mañana y en pocas horas entraré en una aula de la facultad para hacer el examen de relaciones internacionales. Estoy estudiando desde que terminé la cena y ahora decidí parar un poco.
Hice café (nada semejante al café portugués) y decidí sentarme a la ventana que está vuelta para una de las calles con más movimiento de Granada, la Calle Pontezuelas. Es una calle que no es muy ancha, flanqueada por todo tipo de tiendas, mí facultad se queda en el otro extremo da la calle.
Me gusta la ciudad, esta mágica ciudad que es tan tranquila pero que nunca se duerme. Siempre se suele escuchar los coches de la Calle Recogidas o de Gran Vía Colón. Siempre hay grupos de personas que pasan en la calle y me saludan, preguntado me si quiero bajar para ir de copas con ellos. Les contesto “Gracias, pero en cinco horas tengo mi último examen”. “¡Qué pena, tío!”, me dicen y siguen hacía alguno bar donde invitan a la vez. He pasado una gran parte de mí tiempo conociendo a personas, haciendo amigos, bebiendo con gente que no conocía, con personas que nunca más las vería, con personas que todavía hablo y las invito a que vengan a mi casa a cenaa o beber unas copas de vino de Oporto o Super Bock…
En pocos días me voy a Portugal definitivamente. No sentí dolor cuando vine, sin embargo la siento cuando pienso en la partida. Hago promesas de volver pronto y nunca digo a nadie “Adiós”, sino “Hasta pronto” o “Hasta luego” y sonrío.
La taza de café está vacía, voy a volver a concentrarme en apuntes que alguien me los prestó para que estudiara para aprobar a la signatura.
Belén, está durmiendo, pues, mañana trabaja, Agnés también estuvo estudiando un poco conmigo pero fue acostarse hace casi dos horas, está cansada con todas las fiestas de despedida y partirá una semana antes que yo parta también y Fray, el perrito, si no está aquí brincando, está durmiendo también…
Três anos depois, relembro tudo como se ainda hoje estivesse naquela janela, ou a tomar aquele café deslavado, mas ainda não voltei lá, continuo a fechar os olhos quando caminho à noite e imagino-me a percorrer a Calle Pontezuelas, enquanto volto para casa…mas estou em dívida, ainda não cumpri o “hasta pronto”, nem o “hasta ahora”…até quando?
(Tres años después, me acuerdo de todo como si todovía estuviera en aquella ventana, o bebiendo café con poco gusto, pero aún no volví allá, sigo cerrando los ojos cuando camino por la noche y me imagino andando en la Calle Pontezuelas, mientras vuelvo a mi casa...pero tengo una deuda, todavía no cumpli el "hasta pronto" ni tanpoco el "hasta ahora"...¿hasta cuándo?
António Campos Soares
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Memórias de café III - Chegada do Outono
Mais um dia em que não saí de t-shirt de casa, pela manhã, como fiz nos últimos meses… Os dias ameaçam pintar-se com um ligeiro toque de melancolia, que acabará por se alastrar e cobrir toda uma tela.
O céu, com um tom cinza faz com as pessoas andem mais apressadas, mais fugidias, mais frias, mais sós…Encolhem-se, tentado passar nos mais estreitos espaços entre a multidão, muitas vezes chocando com gente conhecida, não esboçando um único sorriso, ou um “Bom dia!”
Peço um leite com chocolate quente e uma tosta, não é muito habitual tomar o pequeno-almoço fora, mas hoje apeteceu-me.
O café está cheio de gente que tenta despertar com o auxílio de um café, a esplanada está montada, mas ninguém opta por ficar por lá. A empregada traz-me o que pedi e eu agradeço, creio que não me ouviu, ou ignorou para não perder o seu tempo, o que não julgo.
Coloco o copo de leite entre as mãos para as aquecer, sinto-as frias, como nos dias de Inverno em que a sala de ensaios se torna numa arca frigorífica e não sinto os dedos macerados, arrastando-se nas cordas do baixo.
Estou sentado numa mesa junto à vitrina, gosto de ver quem passa. Muitas caras conhecidas às quais aceno alegremente, muitas das vezes em vão. De olhos cravados no chão, nem vêem, ou então fingem não ver (provavelmente para não tirarem as mãos dos bolsos para um aceno de retribuição) e eu faço figura de parvo para quem me vê constantemente levantar a mão e ser ignorado. Que me importa?
Nada sabem de mim…Não sabem que reparo quando olham para o telemóvel para não terem que enfrentar alguém, ou quando acendem mais um cigarro porque não sabem o que dizer enquanto estão à conversa e eu continuo a ser o parvo de olhos colados na vitrina!
Finalmente alguém me vê, acena, sorri e volta para trás para entrar no café onde estou. Cumprimenta-me e eu convido a que se sente.
Já não era o único a estar sozinho a uma mesa, tendo como companhia os meus monólogos, as meus pensamentos e observações, ou conversas paralelas que me vão captando a atenção e me fazem reflectir…àsvezes boas, outras vezes origem de dor!
“Dois cafés, por favor!”, pedi…
Falámos, rimos, partilhámos, relembrámos…doeram-me as bochechas de tanto rir!
Ainda que cinza o dia ganhou um tom mais quente, descobri a receita para atrasar o toque amargo da melancolia dos primeiros dias de Outono!
António Campos Soares
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Memórias de café II...
Entram e saem muitas pessoas, pessoas diferentes, pessoas carentes, pessoas decentes, pessoas indecentes…Todo o tipo de gente que me agrada, que adoro, que ignoro, que desgosto e que odeio. Não pedi nada ainda e observo-os sem qualquer pudor. Apetece-me ver as pessoas, apetece-me ver o que fazem e como o fazem.
A maioria bebe café, tomam-no sem trocar um único olhar com alguém. Entram de olhos no chão, sentam-se ao balcão, pedem com os olhos postos no jornal, pagam de olhos postos na mão cheia de trocos e voltam a sair de olhos no chão.
Alguns levam o seu tempo olhando a vitrina dos bolos, escolhendo o que querem para o seu pequeno-almoço. Irrita-me ouvir a palavra “adoçante” acompanhada de o nome de algum bolo. É daquelas coisas que me dá vontade de chegar perto da pessoa e perguntar “Mas porquê?”, enquanto a abano. Sinto, ainda, que prefiro voltar para o meu lugar antes de ouvir a resposta.
O cigarro continua a queimar, a cinza não caiu ainda no cinzeiro e faz uma ligeira curva, volto a centrar-me naquela dança vertical. A dona do cigarro continua de olhos postos no jornal, lê a secção dos classificados, que buscará? Emprego? Casa? Acompanhante?
Eu não busco nada, não sei o que buscar. Talvez um pouco de alento, inspiração, motivação? O inconformismo aumenta e dor também. É inevitável, o inconformista não se doer pelos outros, por mais distantes que sejam.
Aumentam ao volume da televisão, paira a palavra crise pelo ar e olho em volta: ao balcão, alguém está a beber um bagaço de uma só vez e contorce o rosto, junto à máquina de tabaco um jovem bastante gordo trinca, com máximo prazer, uma bola de Berlim, enquanto a mãe lhe diz para ter cuidado para não deixar cair creme na camisola nova. Ninguém liga, ou então já se acostumaram ao tema, que não passa de uma comichão chata (como a típica comichão dos homens que é tão lixada quando aparece, mas totalmente esquecida quando desaparece) que aparece e desaparece, fazendo com que seja possível criar todas as possíveis artimanhas para viver na corda bamba, para construir na falésia que ameaça desmoronar-se.
Pedi um café, está quente!
Na mesa ao meu lado, sentou-se um grupo, não muito mais novos do que eu. Estariam a chegar de uma noitada. Por onde terão andado? Que arrependimentos, ou não, trarão de uma noite levada ao limite? Lembro-me dos meus amigos, cada um correndo o seu caminho, ou procurando um caminho para seguir, antes que não haja pernas para andar. Passo a mão no sítio onde me apareceram os primeiros cabelos brancos e suspiro, cansado…
Não deito açúcar, é amargo como gosto, o seu sabor natural! Está quase no fim, o cigarro, como um CD, nas suas últimas faixas, por vezes, as mais calmas…
Entrou um arrumador de carros, não vem comer nem tomar nada, vem cravar a quem deixa o maço em cima da mesa e dirige-se à rapariga que lia os classificados. Ela dá-lhe um cigarro e acaba por pegar no seu, que estava quase morto. Senti-me angustiado, aquela dança tinha acabado por ali. Tudo se tinha consumido e o mais angustiante é que o fim havia sido forçado, em duas longas passas, havia sido apressado e, para colmatar, esmagado, contra o fundo do cinzeiro.
O despertar é duro, até onde estará o meu tempo consumido…até onde? Até onde…
António Campos Soares
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
A foto do marido
No entanto, a mulher não desistia e começou a mostrar uma foto, insistindo "marido moreó, moneda, limosna". Em vão, vem ter à mesa onde eu estava e começou com a mesma lengalenga até me mostrar a foto, que eu pensava ser dos restantes filhos que poderia ter, e foi nesse preciso momento que vi o insólito....
A FOTO que a mulher insistia em mostrar ERA DE UM HOMEM DEITADO NUM CAIXÃO!
INSANE!
António Campos Soares
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Mal de Portugal (um dos)
terça-feira, 24 de agosto de 2010
E se...?
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Estagnação e parasitismo
António Campos Soares
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Biblioteca Municipal de Coimbra
Viva!
Se alguém quiser, já poderá ter acesso à minha obra Lascas de uma Rocha na Biblioteca Municipal de Coimbra.
Passem por lá e divulguem!
Bem hajam!
António Campos Soares
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Fatalidade aroma
Afirmava para si mesmo, sozinho, ter terminado o seu vício, a sua obsessão, mas o faro levava-o aos mesmos recantos.
Caminhava nos mesmos becos por onde andou, sentava-se nos mesmos bancos onde, noutros tempos, também tinha repousado e observado.
No entanto, já não trazia os utensílios consigo, apenas as mãos nos bolsos, ou soltas quando as passava freneticamente no cabelo, sempre que se sentia perdido.
Orientava-se quase de olhos fechados, estímulos do passado, reanimando o seu subconsciente, quase esquecido ou reeducado. Mas o faro, o aroma, era, pois, a maior das tentações, era a voz que o clamava, reavivando todas as memórias, dando incentivo à obsessão…esse aroma, abrindo um álbum de memoires, há tanto e tão profundamente enterrado e selado.
Ela passou, formosa e elegante. Cabelos soltos e longos libertando o seu feminino aroma em direcção ao seu nariz, despertando nele os estímulos mais carnais que a sua condição poderia revelar.
Fixou nela o seu olhar e ela nele. Uniram-se num laço sem pontas. Uma atracção mútua no ar, num ambiente ofusco, de excelência excitante e extasiante, rumo a um desconhecido acto de prazer inebriante que poderia acabar num ninho de lençóis frescos.
Ele levantou-se em direcção a ela, que estranhou, esperando apenas o flirt de um estranho perdido naquela fria noite de Inverno.
Ele inspirava e suspirava como um aperitivo, ela apaixonava-se com os suspiros, sorrindo-lhe. As luzes dos candeeiros de rua tremiam.
Pararam e, novamente, olharam-se profundamente, um olhar de cordeiro, encontrando conforto, um olhar de lobo, encontrando a presa delicada perfeita.
No momento do beijo, quente e esperado, em que lhe acariciava o pescoço terno e suave, as suas mãos viris imprimiram uma força animal, enquanto a puxava cada vez mais para si, num apertado abraço, inalando todo o aroma exalado pelo medo.
Ele respirava e agarrava-a cada vez mais, até ao último espernear, até ao último gemido e, assim, foi até o corpo dela arrefecer nos seus braços. Sentou-a no banco, de onde tinha fixado, passou-lhe um lenço pelo rosto, cheirou-lhe os cabelos pela última vez e despediu-se dela, atirando-lhe um beijo, o seu único beijo…na mão, o lenço, contendo o aroma da efémera…
De volta ao lar, deita-se no leito, deixando suavemente o lenço estendido a seu lado. Dorme profundamente, enquanto gela o cadáver, apreciando a sua última noite de Inverno.
António Campos Soares
sábado, 3 de julho de 2010
Cíclico?
Vamos analisar a sociedade, o público, em geral, relativamente ao meio artístico. Considero que o número de alnalfabeto (ou analfabrutos também, digo eu e outros também, com toda a certeza) culturais tem aumentado fulminantemente.
Este público fica-se por aquilo que é demasiado fácil (se apenas fosse fácil, considero que o mal seria bem menor), por aquilo que não faz pensar, pelo fútil, pelo inútil, pela standardização de ideias, sem que se levante uma única questão do sentido das coisas. Aceita-se e dão-se por satisfeitos!
Revolto-me quando vejo projectos geniais esquecidos ou obrigados a fugir desta terra tenebrosa, onde reina a ignorância e os carneiros seguem as directrizes daquilo que todos fazem, daquilo que não é apontado como "não tem jeito nenhum", deixando o gosto, o prazer, o deleitamento no esquecimento! Dói-me trabalhar e ver que o prazer apenas é aproveitado por poucos, pois, os muitos não querem ter o trabalho de pensar e descobrir, preferem barrar sempre a mesma manteiga, da mesma maneira, no pão, em vez de experimentar provar o pão com outras coisas!
Preferem pagar balúrdios por um jogo de futebol do que andar 10 minutos a pé e ver um concerto ou um teatro gratuitamente, ou dar 2,5€ por um espectáculo culto.
Preferem ver pernas a abanar em cima de um palco de miúdas que desgraçadamente as exibem, em trajes menores horríveis, por vezes em gélidas noites de Inverno, do que algo realmente tradicional. Continuam a fazer da mulher um objecto e babam-se os ignorantes que quanto mais perto se puderem chegar do palco melhor.
Revolta-me esta profunda ignorância que marca este país, que não sabe ou não quer andar para a frente, abrindo novos horizontes e prefere continuar a viver nas profundezas do passado e deviam vir por aí alguns salazares e arrumar com este malta nova que anda para aí com ideias malucas!
Que propôr para tudo isto?
Bem, teremos que arranjar uma maneira para aplicar três importantes conceitos do Barroco, cuja sociedade também era analfabeta (por não saber ler e escrever, mas aberta para receber as novas artes): docere, delectare et movere!
Precisamos de investidas fortes que permaneçam!
Artistas e aspirantes a artistas, amantes e apreciadores das artes, mecenas de todo o lado, que vos parece a ideia de uma alfabetiação cultural, ao nosso bom gosto?
Bem hajam,
António Campos Campos
domingo, 20 de junho de 2010
...?
Vi um vulto, aproximou-se, foi contra mim.
Um estúpido morcego que me assustou. Mas falou-me…
- Tu, efémero, decadente, miserável, mortal, desejarias, por ventura, ser detentor da imortalidade? – sussurrou a pequena besta, circulando freneticamente à volta da minha cabeça.
Por momentos, julguei estar completamente embriagado, completamente fora de mim, como nunca havia estado, ao ponto de ver e ouvir um morcego falar-me e fazer-me parar.
Não lhe pude responder no momento, comecei-me e rir como um perdido, dando asas a um desalento, a um princípio profundo de demência, mas a criatura mordeu-me, despertando-me daquele transe de insanidade.
- Não são muitas as ocasiões em que ofereço a imortalidade a um reles mortal, no entanto, o teu angustiante clamor, despertou-me. – disse-me num tom ruim.
- De onde raio saíste tu? Imortalidade, a que preço? – rendi-me.
- A primeira questão foi lançada por mim...dentro de três dias aparecer-te-ei de novo . Será o dia da tua escolha! - foram as suas últimas palavras, antes de desaparecer na noite.
Sentei-me no chão.
Toda a minha curta existência tinha implorado por imortalidade, como o eterno romântico desejando morrer num abraço com a sua musa e, finalmente, eu tinha algo…tinha a construção de um diário de um mundo novo a meu pés, poderia reinar, imperar, criar toda a vida. A luxúria e a ostentação não seriam pecados, os vícios não seriam o caminho para o fim…não havia nada a perder!
Fui para casa, adormeci numa poltrona, imbuído nas aspirações que aquela proposta me havia trazido.
Dia 1:
Acordei somente para o almoço, não fui trabalhar. Trabalho, algo que, em breve não seria uma preocupação, a falta de pão não me mataria.
Todos estavam fora, almocei sozinho. Comi como se não houvesse amanhã. No fim, bebi até cair. Fiquei completamente fora de mim, dormi toda a tarde. Acordei com os meus pais a entrarem no quarto. A dor de cabeça desatinou-me e tratei-os mal. Não compreenderam a minha reacção, não tentei conversar.
Saí, porta fora, para o primeiro café que encontrasse, mais um copo e um cigarro. Um atrás do outro. Não havia limites, em breve, nada seria uma mácula, neste meu corpo sujo que seria muito mais do que um estátua que fica na história, eu seria eterno e não imóvel, contaria história pela minha própria boca.
Cheguei a casa completamente arruinado. Deite-me!
Dia 2:
Acordei a meio da tarde, completamente ressacado. Novamente sozinho em casa. Decidi ir comer fora e encontrar amigos, colegas, conhecidos. Ninguém, todos trabalhavam, nem o mais malandro deles parava por ali.
Meti-me de novo em casa, fui para o jardim com tudo o que havia escrito ao longo de anos.
Papel a papel, fui queimando tudo. Não foi suficiente, fui buscar também todas as recordações, de novo, achas na fogueira, enquanto, me embriagava.
“Ficai, ficai em cinzas, que ninguém mais vos conhecerá, não passais de o nada que amanhã não serei” e dançava à volta da fogueira, pisando as brasas, frenético, fazendo escárnio de tudo o que até ali vivera. Os retratos, as palavras, as memórias, iam-se apagando não só nas cinzas.
Caí. Tudo ficou negro à minha volta!
Dia 3:
Acordei ofegante a meio de um pesadelo.
Na praia, as ondas apagavam palavras, rostos, feitos, de todos aqueles que me haviam rodeado. À medida que eram apagados, também não me era possível recordá-los. O meu próprio rosto foi o último que vi. Acordei.
Estava alguém na cabeceira da cama, não consegui logo enxergar, tinha a visão demasiado turva.
Era a minha namorada. A falta de notícias havia feito com que viesse à minha procura. Olhei-me ao espelho, tinha um corte no rosto, da queda, a minha marca de imortalidade e lembrança do seu preço?
Comecei a fraquejar, qual seria o preço a pagar por aquela extravagância?
Não fui capaz de dizer nada. Saí do quarto, de casa!
Enquanto caminhava perdido pelas ruas dos arredores de minha casa, pensava, esmiuçava todas as hipóteses. Apesar de fraquejar, a aspiração continuava entranhada em mim.
Lembrei-me do sonho.
Parei, caía a noite!
Deixei-me cair num banco de jardim, onde adormeci. Acordou-me a maldito morcego!
Tremi, senti-me assombrado, o nervosismo dominava-me…
Ria-se de mim, como de um animal prestes a ser torturado e não ter para onde escapar. No momento de dizer “sim”, quis recordar todos os que me acompanharam, os colos onde fui protegido, os olhares que cruzei, as palavras que me acalmaram, os feitos que me ensinaram…tudo desaparecia lentamente. Já não conseguia recordar o rosto dos meus pais…
Era o preço a pagar…
Acordei com os primeiros raios de sol…apesar das circunstâncias, foi, talvez, o despertar mais tranquilo da minha vida. Corri para casa, ainda estou cá!
terça-feira, 25 de maio de 2010
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Definição!
Raquel Gomes Morim
Amo-te meu anjo [[[*]]]
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Internem eternamente esta gente...
(http://blitz.aeiou.pt/?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/59876)
Digam lá, esta criatura não merecia dois pares de estalos e ganhar vergonha na cara?
É caso para dizer (como muito bem já eu ouvi dizer):
"A senhora vá ser burra lá fora!"
This is so fuckin' INSANE!
segunda-feira, 12 de abril de 2010
EB 2 3 Bernardino Machado (22.03.2010)
Adorámos a tertúlia orientada por si. Além de uma tertúlia sobre a poesia, mais do que uma conversa, na qual cada um deu a sua opinião, foi uma oportunidade para mostrarmos o nosso interesse pela poesia e recebermos uma opinião sobre textos nossos.
Desejamos-lhe muitas felicidades poéticas e que a sua banda musical tenha muito sucesso.
Continue a ser um poeta cheio de sonhos e que sonhe sempre muito.
Um beijo das alunas do 9º B da escola EB 2/3 Bernardino Machado,
Sandra Rodrigues
Cátia Magalhães
Cíntia
Ângela
Adriana
Lisandra"
Um grande obrigado pela oportunidade e pela atenção com que receberam as minhas palavras,
António Campos Soares
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Tokio Hotel (Há coisas que me irritam - pais que não sabem a diferença entre o "Sim" e o "Não"!
(...)
As admiradoras foram igualmente impedidas de continuarem a pernoitar à porta do Pavilhão Atlântico e só poderão voltar a fazê-lo a partir de 5 de Abril, diz o Cotonete."
http://blitz.aeiou.pt/?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/59424
Confesso que detesto os Tokio Hotel, é verdade! Que são aquilo a que o Kurt Cobain chamou (e muito bem chamou) de "putas da indústria musical". Quem quiser que os ouça, quem quiser que opte por outros caminhos e ouça música que realmente tenha qualidade, mas não é de música que hoje vou falar, pois, se assim, muito haveria para dizer e não estou com vontade de proclamar nenhum "evangelho"!
Pois, então, vou directo ao assunto:
Será que essa "canalhada ou pitalhada" (peço desculpa pelo termo mas não consegui encontrar melhor) não tem quem lhes saiba inculcar decência ou chamar à razão? (Que fique bem saliente que não estou a incentivar a que não vão ao concerto. Quer dizer, era dinheiro, saúde e neurónios que poupavam).
Eu cá ainda sou do tempo em que os pais diziam não e eu nem reclamava! Tempo em que os pais só andavam comigo ao colo quando eu não sabia ou não podia andar, tempo em que os pais ensinavam que há tempo para tudo! Felizmente, apesar destes exemplos ridículos presenciados na artigo acima, ainda há pais decentes!
Quantos a estes bons pais, um grande obrigado e que assim continuem (Bem Hajam)!
Quantos aos "papazinhos deixa-deixa", pouco sou ainda para dizer como educar, no entanto, lembrem-se que entre "sim" e "não" existe uma grande diferença (uma diferença abismal), a diferença que poderá mostrar a postura dos vossos filhos para a vida! E não se esqueçam que depois do mal feito, já tudo estava previsto!
Estes "paizinhos deixa-deixa" (gentes que são também responsáveis por muitos casos lomentáveis que ocorrem nas escolas) a quem eu passaria um atestado de estupidez, deixam que as suas criaturas se metam na "boca do lobo", pois, ultimamente a criminalidade (furtos e violações) tem aumentado drasticamente, ou será impressão minha e de um pequeno grupo de "malucos"?
Se, nos meus 15 anos tentasse fazer isso, um sopapo bem dado servia perfeitamente para que, e com razão, essa ideia infeliz desaparecesse! (Obrigado pai, obrigado mãe)
Enfim, daqui poderíamos partir para muitos outros casos e situações infelizes fiéis ao nosso país, mas não me apetece partir por aí...
Como diz o meu pai "O verdadeiro amigo não é apenas aquele que diz sim, mas também aquele que sabe dizer não"!
E que não são os pais senão os nossos melhores amigos?
Obrigado, pai e mãe, pela educação!
António Campos Soares
terça-feira, 16 de março de 2010
Green Rock Fest (1ª Eliminatória)
Os ArtLeak foram a banda apurada na 1ª eliminotória do Green Rock Fest, decorrida no Live Rock Bar, frente aos The Arson.
Os meus parabéns desde já aos The Arson pelo seu trabalho. Gostei da sonoridade deles, o vocalista fez-me lembrar Papa Roach (uma banda que gosto bastante) e tiveram uma execução muito boa.
Quanto a mim e aos ArtLeak, fiquei muito contente, estamos a caminho da final, demos tudo por uma espectáculo diferente e prometemos que vamos ensaiar com metrónomo...xD
Ficamos conhecidos como a Banda das Barbas (a Dalila escapa a esta tendência, claro...lol). Quanto à final não sei, mas contem com um concerto ainda mais pormenorizado e original!
Houve momentos para tudo: um pouco de ansiedade, boa música, conversa, tempo para rezar (ou não) e muita galhofa!
Grande Abraço e um obrigado a todos os que estiveram lá para nos apoiar!
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Cebolas (de onde?)
Eu e a Raquel, minha namorada, precisávamos de cebolas para fazer o jantar…fomos a um Hiper-mercado (que era o mais perto, por isso, estaria tudo certo)na Póvoa de Varzim!
Cebolas…é algo que se arranjar em qualquer lado: na mercearia da esquina ou do fundo da rua, no quintal lá de casas dos avós ou dos tios, na feira, no entanto, já era tarde e tivemos que ir ao dito cujo hiper-mercado, enfim, onde dizem haver enorme variedade!
Cebolas (Origem: França!?)
Cebolas (Origem: Espanha!?)
- Por favor, não há cebolas portuguesas? – perguntámos a uma senhora que devia ser a encarregada dos legumes.
- Olhe, o que há, ‘tá aí! – disse olhando desconfiada e voltando, logo de seguida, a pôr os olhos na alface que estava a “ajeitar”.
Ficámos aparvalhados! "Hiper-mercado por perto, tudo certo!” (ou não!?)
Contra a nossa vontade, gastámos 0,75€ num saco de cebolas francesas (dá para acreditar?). E se esse dinheiro tivesse sido gasto em cebolas portuguesas? Não teríamos sido os únicos…façam lá as contas! Ainda por cima, Aguçadoura e A-Ver-O-Mar ficam mesmo ali ao lado! Alguém me responda, mas afinal porque carga de água é que "mandam vir" cebolas do estrageiro?
Moral da história:
Não encontrámos cebolas portuguesas, mas confirmámos a existências de nabos e bananas portugueses!
Triste sina a de ser agricultor em Portugal!
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Um clássico da música nacional!
Bons velhos tempos! Éramos miúdos do Rock, talvez quebra-corações!
Boas memórias, os tempos evoluem...Deixo-vos uma recordação:
Nothing Man, Lightning Shadows (2005)
Voz / Guitarra Ritmo: Nando
Guitarra Solo: Togui
Baixo: Xavier
Bateria: João Pedro
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
WTF?!?!?!?
Não somos os "rebeldes", não nos deixam ser da dita "geração rebelde",
e porquê? Estaremos já demasiado velhos?
- Não vemos morangos com açúcar;
- Não ouvimos Tokio Hotel (ou lá como se escreve), DZRT, ou cenas tristes (Vai de retro Satanás...xD);
- Não vamos para a discoteca ao domingo à tarde, ou para sítios ditos "de nome" para ganharmos estuto;
- Não andamos a apertar as nádegas para que as calças não caiam;
- Os nossos telemóveis, apesar de darem para tirar fotos, já são "da idade da pedra", como dizem;
- Crescemos a ver Dragon Ball, a simular as lutas das personagens, ou a trincar feijões crus na ilusão de ter o mesmo efeito do feijão mágico;
- Queríamos brincar com os amigos e não ficar colados na televisão ou no computador;
- Chegávamos a casa todos sujos, depois de uma dia de galhofa e ainda levávamos na cebeça por ter ido brincar com as sapatilhas novas;
- Não somos da moda, ou melhor, não nos identificámos por um código de barras que quase já consumiu toda a juventude;
- Somos bons rokeiros;
- OS NOSSOS PAIS ENSINARAM-NOS QUE NÃO É MESMO NÃO E, SE ASSIM NÃO FOSSE, ESTÁVAMOS FOXXXXX;
- Levámos puxões de orelhas na escolas ou alguns sopapos e não nos queixávamos e se disséssemos em casa, ainda lavávamos mais;
- E muitas outras coisas que sabem bem recordar e que nos fizeram tal e qual somos....
Agora estámos na casa dos vinte (menos a Dalila que só faz anos agora em fevereiro...xD)...Alguns já trabalham, outros estão quase a terminar o curso. Vamos vivendo, temos valores! Somos boa gente, bons rapazes e boas raparigas!
Abraço à Raquel (minha namorada), ao Nando (grande amigo já desde o seminário), à Diana (Moça do Nando e companhia de todas as borgas), ao Nuno (a quem eu muito lixo o juízo, mas com as melhores intenções), ao Pedro (esse que eu gosto de chatear e que é fixe vê-lo irratado, grande amigo) e à Dalila (amiga já do secundário e moça do Pedro). São todos o núcleo duro dos ArtLeak, a grande família!
Boa deixa!
"Se as pessoas tirassem a cara da Internet e a cabeça do rabo, talvez saíssem à rua e fizessem algo de útil!"
by Dave Grohl
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
O Autocarro do Sr. Alfredo!
Todos os dias, fizesse sol ou chuva, lá estava um desconhecido senhor, com os seus oitenta anos, sentado no banco da paragem de autocarro da Rua das Lembranças. Há dois anos que vivia naquela cidade e nunca me tinha dado na gana perguntar-lhe por quem ou o quê é que ele tanto aguardava. Era-me indiferente!
Tinha-me mudado para aquela cidade numa tentativa de esquecer algo de um passado ingrato da minha vida e estava a resultar. Tinha-me estabelecido ali, era professor de espanhol e um escritor noctívago.
A pacatez daquela vila fazia-me bem. Ninguém me conhecia, a não ser da maneira que eu desejasse e podia vaguear como bem entendesse. Passava grande parte do meu tempo no café “Transeunte”.
Parava lá, no final de jantar, e aí permanecia, noite adentro, excepto ao fim de semana, trabalhando, ou simplesmente divagando por entre linhas, numa mesa junto à janela. Dali, passei a observar aquela pessoa que tão indiferente me era, sentado, esperando, olhando constantemente para o fundo da rua, onde já não passava um autocarro há mais de três anos.
Aquilo passou a perturbar-me, a indiferença convertera-se em curiosidade. Chamei o empregado do café, um miúdo com os seus dezoito anos que procurava ali maneira de juntar umas coroas.
- Por quem tanto espera aquele tipo? – questionei-o, em voz baixa, com alguma cumplicidade, olhando pela janela.
- Ui, o Sr. Alfredo, hum, não tente compreender, o tipo é esquisito… - respondeu o empregando, fazendo um bocado de troça.
- Não sabes mesmo nada sobre ele? – insisti.
- Dizem que o tipo, em criança, foi o único sobrevivente de uma doença qualquer que atacou a família dele. – respondeu-me ele, tentando recordar-se de algo mais.
- Mas, que tem isso a ver com o Sr. Alfredo passar ali os seus dias? – a minha curiosidade não desaparecera.
- A família que ficou com ele dizia-lha que, um dia, a sua família verdadeira o viria buscar, num autocarro, e iriam dar uma volta juntos…ou algo do género! O tipo não joga com o baralho todo, dizem que sofre de uma doença que ataca a cabeça, com um nome estranho… - respondeu ele desinteressado, olhando o relógio para ver se já era hora de sair.
Eu observava-o, eram quase dez da noite, hora em que ele voltaria a casa.
Esticou o braço esquerdo para arregaçar a manga do casaco e ver as horas, olhou para o fundo da rua, levantou-se e partiu. Caminhava de olhar fixo no chão, abanando a cabeça. Fiquei com a sensação de que dialogava sozinho.
Sim, o Sr. Alfredo sofria de Alzheimer e estava numa fase de regressão, vindo-lhe à cabeça as memórias mais vivas da sua infância que lhe alimentavam uma ilusão inatingível.
Um domingo de manhã, saí bem cedo de casa e sentei-me no banco ao lado do Sr. Alfredo a escrever no meu diário.
- Você escreve muito… - disse ele, para meu espanto.
- É algo que me faz bem e me aviva a memória. – respondi-lhe.
- Sabe, estou à espera da carreira, a minha família vem-me buscar para irmos passear todos juntos, talvez se tenha atrasado! – desabafou o Sr. Alfredo, olhando o relógio depois de espreitar para o fundo da rua.
- Certamente estarão a chegar! – confortei-o eu.
Não obtive resposta. Sr. Alfredo murmurava algo que eu não compreendia. O seu olhar estava fixo no chão.
Fechei o meu caderno e saí lentamente. Senti pena do velho Alfredo. Anos de espera, uma ilusão alimentada pela demência.
Mais Domingos e voltara a fazer o mesmo. Um deles, Sr. Alfredo falara-me da sua família, contara-me brincadeiras da sua infância. Eram conversas curtas, muitas vezes interrompidas por momentos de desalento e murmúrios imperceptíveis, acompanhados de um olhar perdido e solitário. Eram conversas que eu ia registando no meu diário e ia sentindo um certo carinho pelo velho homem.
A cada Domingo, acordava cheio de vontade de sair de casa e ir para a paragem de autocarro e quem sabe, ouviria uma nova história.
Mas um Domingo de Inverno, creio que em meados de Janeiro, se não me falha a memória, Sr. Alfredo não estava lá. Atravessei a rua, em direcção ao café.
- Aquele velhinho, o Sr. Alfredo, não o viu na paragem? – perguntei, estranhando.
- Não soube? Ele faleceu ontem à noite, aí mesmo na paragem do autocarro…O Zé assistiu a tudo. Quer que o chame aqui? – informou-me a dona do café, enquanto limpava uma mesa, dando pouca importância ao que tinha ocorrido.
Não quis acreditar no que ouvira. No entanto, pensei “bem, agora está em paz e não o atormentam as memórias do passado”.
- Bom dia! – disse o empregando, chegando-se à mesa onde me tinha sentado, ajeitando a camisa que trazia vestida.
- Bom dia! – respondi-lhe eu ainda abalado – conta-me, conta-me o que aconteceu ao Sr. Alfredo. – quase o obriguei a fazê-lo.
- Não há muito p’ra dizer. Vi o homenzinho levantar-se de maneira esquisita, fazendo gestos como se fosse p’ra chamar o autocarro. Esfregava as mãos de satisfação, ria-se e voltava a abanar os braços com alegria…não tava a perceber nada do que se passava ali…De repente, caiu no chão e ali ficou. Corri p’ra ajudar, mas já foi tarde, tava morto, mas sorria e tinha a cara com lágrimas!
Fui para casa, sem proferir uma única palavra, sentindo-me um ser reduzido a um mísero pedaço de nada. Não somos mais do que vítimas do tempo. O meu duvidar havia-se tornado em remorsos e…Afinal, o Sr. Alfredo sempre apanhara o seu autocarro.
António Campos Soares
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Melhor do que Band Hero...!
O caso que analisei, já o tinha visto inúmeras vezes (com o João Pedro, no tempo dos Lightning Shadows e, acreditem ou não, ele aprendeu muito assim), no entanto, apenas prestei verdadeiramente atenção ao Nando, quando estávamos a fazer uma gravação. A parte dele estava a ser feita num programa no portátil.
Tim, Pim, Psh, Posh, Tá, Tá...
Lá fui eu prestando atenção aos movimentos que ele fazia e às onomatopeias com que acompanhava os movientos. Sabem que mais, aqui vão elas, experimentem e vejam se não bate certo:
- Tarola: Tá (façam isto de maneira a que o "Tá" produzido seja um som seco);
- Timbalão 1: Tuim (quando produzirem esta palavra, o som de "ui" deve soar da mesma maneira que soa na palavra "muito");
- Timbalão 2: Tão (nada a dizer, a não ser que deve também ser um "Tão" seco);
- Timbalão de Chão: Tum (este não preciso de ser tão seco, aliás, se quiserem fazer algo mais George of the Jungle, podem deixar um "Tum" alongadamente tropical);
- Bombo: Pum ou Tum (dependendo do tipo de sonoridade que quiserem sacar)
- Ride: Tim ou Pim (deixem sempre soar, fica bem, mais credível);
- Crash: Psh (deixem soar o "sh", no entanto, tenham cuidado em relação ao sítio onde o fazem, pois, em locais públicos há muita gente convencida);
- Splash: Posh (os mesmo conselhos e advertências que deixei acima, relativamente ao som, façam um "posh" bem robusto);
- Hi-Hat (ou Pratos de Choques): ts (quando fechados, este convém ser um som mais para o seco, percebem,?) e tsh (quando se abrem os pratos (aqui, neste caso, o "sh" mais prolongado, para lha dar um toque de graça);
Bem , depois de aprenderem isto tudo e tiverem a lição bem estudadinha, arrisquem a reclamar ao Estado por um novo posto de trabalho: INTÉRPRETE DE BATERIA!Ou outros empregos, mas, por favor, sejam criativos! Porque não escrever ritmos para bateria, usando apenas as onomatopeias, por exemplo: Tum, Tum, Tá; Tum, Tum, Tá, We will, we will Rock You, Rock You!
Eu, pelo menos, enquanto o Nando não parava e não se calava, não me cansei de tentar interpretar tudo o que ele fazia.
Espectáculo, hein?
Vá lá, tentem, não custa nada...!
Grande Abraço =)
António Campos Soares
PS - Quanto ao tempos, fazemos à maneira antiga, ou alguém me quer dar uma ajuda?
sábado, 9 de janeiro de 2010
ISTO É AQUILO QUE SOU!
Sede de Rock, sede de Blues, sede de poesia, desejo de metamorfose, ser o animal de palco, o suor a escorrer por todo o corpo, os dedos perto de rasgar e colorir o baixo com tons de sangue, acabar a noite a ouvir um constante "piiiiiii" nos ouvidos envolvido num abraço e acordar no seguinte com vontade de repetir tudo novamente!
ISTO É AQUILO QUE SOU!
(Foto por Dalila Fernandes)