Chove e chove de várias
formas porque hoje a chuva dança com o vento. A vala comum vai-se
enchendo com todas estas gostas dançantes que vão caindo sem limite
e lavando o sangue dos muitos cadáveres que lá jazem,
talvez tantos como essas gotas de chuva que se vão precipitando. É
manchada a sangue a água que vai enchendo esta vala, como um vírus contaminante: morte!
Como o pequeno rebento
que rasga a terra em busca da sua afirmação perante a vida, num
"AQUI ESTOU!", irrompe uma mão que tenta sentir a chuva
incessantemente, em vários movimentos elípticos, querendo
certificar-se de que a única adversidade que a rodeia é a chuva.
O prazer de estar viva, o prazer de sobreviver e restar para contar a
história ou simplesmente esquecê-la.
Outra mão surge, entre
o amontoado de cadáveres, uma cabeça e um olhar que se perde nesse
céu momentaneamente cinzento, um elegante busto feminino e lentamente
vai desviando os cadáveres que rodeiam e trepo-os, triunfante, como
uma rainha. Integralmente fora, permanece quieta, deixando que o
chuva faça o seu trabalho e limpe o seu corpo cada vez mais belo, gozando a como o banho que já não se lembra de ter desfrutado Está
nua, despiu-se daquele traje que lhe impunha a escravidão, rasgou o
pedaço de pele que fazia dela mais um número, mais um saco de
balas. Está nua, está limpa, pronta para viver de novo!
Como é inspirador o
grito da sua afirmação! Como é perfeita a imagem da Resistência!
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