Quando a inspiração e o
sonho nos abandonam, desaparece o caminho que temos vindo a
descobrir, desaparece a vontade, desaparece a vida lentamente. Cresce
a angústia, já não sabemos desfrutar a solidão porque nos
esquecemos do seu limite. Tudo o que caminhámos transforma-se numa
labirinto de muros altos e enegrecidos e, à nossa frente, um beco
sem saída, ao nosso lado, pedra fria, atrás de nós, uma porta que
se trancou. Encolhêmo-nos no chão, como um feto que sabe que não
nascerá, cada um no seu cubículo, que se vai estreitando. À medida
que o tempo passa, há momentos de insanidade e, pela força,
tentamos destruir paredes indestrutíveis e manchámo-las com as
nossas mãos feridas e ensanguentadas. São paredes que vão
crescendo e a luz vai escasseando. Os nossos corpos vão ficando
frios e empalidecemos, somos apenas pele e osso com rostos de
olheiras salientes, cada vez mais débeis e sem força para nos
erguermos. Mitiga-nos uma doença para a qual nunca tivemos tempo de
desenvolver imunidade. Somos (e amanhã apenas fomos) crianças e destruíram o nosso futuro quando nos disseram que não valia a pena
sonhar, quando nos disseram que a vida é assim, quando nos apontaram
um único caminho, quando nos cegarão, quando nos ensinaram o que
pensar ou o que falar. E este labirinto de cubículos não é mais do
que um enorme cais de gavetões onde repousamos sem descanso.
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