domingo, 3 de maio de 2009

Descansa em Paz...


Ao entrar no quarto olhei para o fundo do corredor e lá estava o meu avô a olhar para mim, por detrás de uma grande retrato a óleo feito quando ele ainda era vivo. Passei minutos a olhar para ele e a recordar tudo o que passei com ele, tudo o que ele me ensinou, as saudades provocadas pela sua partida há dez anos. Parece tudo tão recente. Às vezes tenho a sensação de ouvi-lo a chamar por mim ou a dizer-me algo que me tornou naquilo que sou. Entrei no quarto com lágrimas nos olhos, sentei-me na secretária e liguei a aparelhagem. Nada mais nostálgico do que recordar o passado a ouvir a Yesterday dos Beatles. Tinha um bloco de notas em cima da secretária e comecei a escrever:

Para sempre como meu anjo

Em muitos anos passados,
Nunca te escrevi uma ode,
Nunca gravei o teu nome num epitáfio,
Não lamentei a tua perda em minhas palavras
Só para que vissem o meu sofrimento.
Chorei horas sem fim
Sempre resguardado pela noite,
Sempre envolto de recordações
E de palavras que me foste deixando.
Serei eu capaz de dignificar um anjo,
De dar-lhe um nome,
E poder agradecer-lhe toda a sua protecção?
Agradeço-te os milagres,
Agradeço-te o caminho,
Agradeço-te a luz, a força, o orgulho…
Agradeço-te quem sou,
Modelado pelas tuas únicas e convictas palavras.

Pela primeira vez desde que partiste consegui dedicar-te algo. Já tinha tentado vezes sem conta fazer uma música dedicada a ti mas nunca saiu nada. Tudo não passou de tentativas frustradas, mas naquela noite consegui. Perdi a noção do tempo a olhar para o que tinha escrito e, por fim, lá coloquei o poema na minha caixa das recordações, junto a uma velha foto em que eu estava contigo a pescar. Não imaginas a falta que mesmo hoje me fazes. Gostaria que visses o quanto cresci, em quem me tornei, o quanto sou parecido contigo, quantos sonhos já realizei, quantos objectivos ainda tenho para realiza...No outro dia fui a um casamento e quando vi a noiva abraçar o seu avô comecei a chorar...
Triste de mim que não te vou ter ao meu lado, sim, neste momento choro, é tudo tão recente. Dez anos não são nada na longa vida que ainda há pela frente e enfrentar toda a vida sem ti, essa dor dilacera-me profundamente, é uma angústia terrível.
Vejo a tua netinha Ana Pedro,minha irmã, ela é tão feliz...Muitas vezes saí, com lágrimas nos olhos por ela não te puder conhecer. Serei eu digo de lhe falar de ti? Espero, pelo menos, ser para ela, um pouco daquilo que foste para mim...
Ainda hoje se em casa falam de ti, não aguento, parece que foi ontem.
Há uns anos decidiram passar videos de natais antigos numa noite de consoada, mas não aguentei ver-te ali no ecrã, vivo e sorridente, e olhar à volta e não estares lá.
Faz-me como tu, nunca me abandones, avô querido...


Descansa em paz...

António Campos Soares

6 comentários:

Anónimo disse...

[[[[[[[[[[***]]]]]]]]]]

António Campos Soares disse...

Obrigado [[[[*]]]]

Anónimo disse...

(fiz questão de por a Yesterday a tocar na janelinha ao lado ... )


recorda-lo é a melhor maneira de lhe prestar homenagem (:
um beijinho e um abraço ..*

António Campos Soares disse...

Hey! Obrigado =)
Melhor ainda é recordar como ele viveu e maneira como falava, sorria e me acolhia =]
Beijo*

A. Pedro Ribeiro disse...

grande abraço, António.

António Campos Soares disse...

A vida tem destas coisas, "fodidas" de superar, muitas vezes!