segunda-feira, 21 de março de 2011

Bilhete de Ida (sem Volta)


O meu nome é Fidalgo Maldição e foi aqui que nasci e é daqui que um dia partirei. Toda a minha existência se resume a isto: um banco de madeira, neste velho apeadeiro, que já era velho quando aqui nasci.
Foi neste banco de madeira, em que estou sentado, que cresci, que aprendi a falar, que brinquei, que aprendi a ler e a escrever, a falar diferentes línguas, foi aqui que conheci infinitas pessoas, que ouvi histórias, de todos os lado um pouco, como uma pequena lição de cada vez.
O pequeno abrigo para os dias de chuva, dele já pouco resta, e a placa com o nome do apeadeiro, já nada diz; quando aprendi a ler, já o vento tinha levado essa palavra com que alguém havia baptizado este local.
Apesar de tudo e, cá para mim, este é um apeadeiro de luxo. Há um comboio para cada pessoa. Há dias em que passam poucos comboios, mas outros dias, nem os consigo contar e a fila de pessoas é tão grande que a perco de vista. São comboios de todo o tipo: uns muito lentos e metálicos, ainda a vapor, outros extremamente rápidos e coloridos.
Aos poucos, as pessoas que conheço vão também apanhando o seu comboio…algumas espreitam pela janela e acenam, sorriem; outros entram, com o rosto lavado em lágrimas e não lhes sigo mais o rasto, que desaparece com o comboio na linha do horizonte…sem um adeus!
Não me deixam viajar com elas, dizem sempre que não tenho idade para isso, que ainda não acabei o meu trabalho ou que tenho isto e aquilo para fazer…às vezes todos os motivos parecem desculpas vagas, mas prefiro não pensar que as pessoas se tenham cansado de mim.
Por que não me deixam ir também?
Todos apanham um comboio, não quero ficar sozinho.
Por que tardam em voltar?
Bem, talvez os bilhetes de volta estejam esgotados…

1 comentário:

Anónimo disse...

Gosto gosto gosto gosto gosto gosto...=)
Muito=)

[*]R