segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Memórias de Café IX - Caixa de Recordações

Lembro-me dos jantares de despedida e de me terem oferecido uma t-shirt dizendo “Gibreirinho On Tour – Granada 2008”…


Lembro-me de preparar todas as malas, com tudo o que pudesses levar…

Lembro-me do friozinho no estômago, não de arrependimento, mas de ansiedade e expectativa…

Lembro-me de me despedir de pessoas e de as ver chorar…

Lembro-me do carro cheio, com todas as minhas tralhas, de me despedir da minha avó que tentava não chorar e de olhar para casa como um “adeus!”

Mas ainda faltava algo que não podia ficar para trás todos aqueles meses e voltei para a minha saleta, onde estão todas as minhas pequenas coisas, memórias, livros, objectos pessoais, para pegar na caixa de recordações: papéis com anotações do meu avô, fotografias de todos os tempos, bilhetes dos concertos que assisti no Contempl’arte e recordações e pessoas a eles associados, cartas, montes de cartas com fotografias de paixões dos tempos de seminário ou amores de Verão, coisas da minha adolescência…Faltavam cinco minutos para partir!

Ao chegar ao carro, com caixa das recordações na mão, parei, encolhi os ombros e voltei para trás, acomodei a caixa onde ela costumava estar e regressei a correr para o carro….Sozinho!

Todos os momentos que passei em Granada, até os mais solitários, nunca senti saudades, não havia nada para abrir de onde saltassem frenéticos momentos de nostalgia que corroessem, não foi egoísmo, mas sim uma protecção. Todos esses momentos tinham ficado em Joane, no seu cantinho, a minha família estava bem, tranquila, quase aumentada pela pequena Ana que mostrava energia já dentro do ventre, os meus amigos seguiam a sua vida e eu vivia totalmente entregue aos encantos de Granada!

Joane continuava cá com tudo o que lhe pertence, a 1200km de distância, que nem nos sonhos percorria e eu recolhia memórias, milhares de memórias de Granada, dos pessoas, dos bares, das ruas, do Albaicin e apenas libertei lágrimas quando tive que regressar, para junto da caixa das recordações, agora, mais completa do que nunca.

António Campos Soares