Hoje tive que ouvir música e escrever, imperativamente.
São demasiado os infortúnios que necessito de expurgar do meu pensamento e
tantos as vontades e visões que tenho que guardar bem gravadas, ainda que em
cicatrizes para nunca me esquecer o que representam porque as cicatrizes são
mais permanentes e incógnitas que a tatuagens.
As minhas noites oscilam entre pesadelos mórbidos e
melancólicos e sonhos que desejava serem realidade. A ironia é que não quero
acordar nem dos pesadelos, nem dos maravilhosos sonhos que com eles se
alternam. Os pesadelos, quero resolvê-los e dar-lhes um final digno e os sonhos
não os quero abandonar, ao ponto de não saber se, por vezes, são realidade ou
imaginário e, nesses casos, apodera-se de mim a angústia quando desperto para
dita realidade, que também não prefiro em detrimento dos pesadelos.
Num dos pesadelos paguei com o consentimento da minha
lobotomia uma vida que queria salvar de um contínuo decepamento. E a anestesia,
os perder dos sentidos era real que acabei por perecer num túnel numa manhã de
nevoeiro e não terá sido um parecer no seu lato
sensu, mas sim num stricto sensu
que me terá abandonada num hospício perdido, de onde um dia me hei-de resgatar.
Outras vezes a visão é demasiado trôpega e cansada que me encontro em lugares
desconhecidos, estando só em cenários de um pós-apocalipse que levou para longe
todos aqueles que conheço e não quero despertar, pois naquele pesadelo, ainda
que assim o seja, consigo encontrar esperança para me perder na busca de alguém
e, no oscilar da noite, essas personagens cruzam habilmente as fronteiras da
noite que separam os sonhos dos pesadelos.
Eu sou o homem de lugar nenhum que busca incessantemente
o bem e o mal, o infortúnio e a graça, o ódio e o amor, a dor e a cura, a
escassez e a abundância, as chagas e o bálsamo porque tenho uma necessidade
imperante em sentir-me vivo e a dor faz parte desse processo, a imunidade
cria-se assim, os objectivos e os caminhos que seguimos traçam-se assim.
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