sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Memórias de café III - Chegada do Outono

Bom dia!
Mais um dia em que não saí de t-shirt de casa, pela manhã, como fiz nos últimos meses… Os dias ameaçam pintar-se com um ligeiro toque de melancolia, que acabará por se alastrar e cobrir toda uma tela.
O céu, com um tom cinza faz com as pessoas andem mais apressadas, mais fugidias, mais frias, mais sós…Encolhem-se, tentado passar nos mais estreitos espaços entre a multidão, muitas vezes chocando com gente conhecida, não esboçando um único sorriso, ou um “Bom dia!”
Peço um leite com chocolate quente e uma tosta, não é muito habitual tomar o pequeno-almoço fora, mas hoje apeteceu-me.
O café está cheio de gente que tenta despertar com o auxílio de um café, a esplanada está montada, mas ninguém opta por ficar por lá. A empregada traz-me o que pedi e eu agradeço, creio que não me ouviu, ou ignorou para não perder o seu tempo, o que não julgo.
Coloco o copo de leite entre as mãos para as aquecer, sinto-as frias, como nos dias de Inverno em que a sala de ensaios se torna numa arca frigorífica e não sinto os dedos macerados, arrastando-se nas cordas do baixo.
Estou sentado numa mesa junto à vitrina, gosto de ver quem passa. Muitas caras conhecidas às quais aceno alegremente, muitas das vezes em vão. De olhos cravados no chão, nem vêem, ou então fingem não ver (provavelmente para não tirarem as mãos dos bolsos para um aceno de retribuição) e eu faço figura de parvo para quem me vê constantemente levantar a mão e ser ignorado. Que me importa?
Nada sabem de mim…Não sabem que reparo quando olham para o telemóvel para não terem que enfrentar alguém, ou quando acendem mais um cigarro porque não sabem o que dizer enquanto estão à conversa e eu continuo a ser o parvo de olhos colados na vitrina!
Finalmente alguém me vê, acena, sorri e volta para trás para entrar no café onde estou. Cumprimenta-me e eu convido a que se sente.
Já não era o único a estar sozinho a uma mesa, tendo como companhia os meus monólogos, as meus pensamentos e observações, ou conversas paralelas que me vão captando a atenção e me fazem reflectir…àsvezes boas, outras vezes origem de dor!
“Dois cafés, por favor!”, pedi…
Falámos, rimos, partilhámos, relembrámos…doeram-me as bochechas de tanto rir!
Ainda que cinza o dia ganhou um tom mais quente, descobri a receita para atrasar o toque amargo da melancolia dos primeiros dias de Outono!


António Campos Soares

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