"Car tous les hommes désirent d'être heureux: cela est sans exception. Quelques différens moyens qu'ils y emploient , ils endent tous à ce but. Ce qui fait que l'un va à la guerre, et que l'autre n'y va pas, c'est ce même désir qui est dans tous deux accompagné de différentes vues."
Blaise Pascal
A vida é como um texto porque a língua – escrita ou não – é também uma forma de acção. Não é que todas as regras que envolvem a língua tenham que ser seguidas escrupulosamente porque, se deténs o conhecimento formal que é fundamental, podes reinventar.
Podes usar reticências
ao invés de um ponto final. Podes escrever frases mais longas e
fazê-las semelhantes a um sonho que queres prolongar ou a uma
divagação que não queres abandonar e continuar... Podes fazer
essas mesmas frases curtas! É contigo! Podes adulterar a ortografia,
se assim entenderes, porque há palavras que ditas ou escritas de
outra maneira, em alguma circunstância, te soam melhor assim, te
fazem rir, te perpetuam aquele momento, te relembrar alguma pessoa – infelizmente agora não me estou a lembrar de nenhuma mas isso
acontece! Podes jogar com as palavras porque, em determinado momento,
uma mesa pode ter sido muito mais que uma mesa onde costumas jantar
só e naquele exacto momento não estavas sozinho ou sozinha. Podes
florear para criar cenários idílicos que pretendes levar ao mais
ínfimo dos pormenores ou criar charadas de quem foste realmente ou
de como apenas te representaste nas histórias que escreveste quando
não o pudeste ser na realidade. Tudo isto porque, quando conheces bem, dominas ainda melhor. E aprende, aprende a cada dia e com cada palavra.
O importante é não
deixar nada em suspenso, pelo menos para ti, que escreves o teu
texto. As dúvidas não fazem bem porque são como cruzamentos
duvidosos e muito mal sinalizados em que, enquanto decides avançar
ou não, podes ser surpreso por alguma infelicidade, por isso, não
fiques na dúvida e se, no final daquele parágrafo, deverias ter
deixado reticência, ou por fraqueza não quiseste colocar um ponto
final, ou se aquele pensamento, esquecido entre outras frases,
deveria ter tido destaque e passado a uma intervenção tua, mesmo
que sem deixa, certifica-te que isso não te passou em vão.
Não deixes frases
inacabadas em que, na posterioridade, alguém perversamente possa
alterar o sentido de alguma circunstância que te envolveu ou em que,
com a melhor das intenções, te envolveste apesar do anonimato que
injustamente te atribuíram no final da história quando alguém
gritou vitória e te esqueceu.
Talvez a razão de muito
mal-estar que nos mitiga seja mesmo a falta de coerência e sanidade
que nos assoma quando deixamos pontas soltas em algo que, ainda não
estando o nosso texto acabado, pensamos lá voltar para resolvê-las,
no entanto, não o fazemos porque são tantas e nos esquecemos e
quando está publicado o nosso texto já é tarde demais. FIM!