sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Músicas para Escrever III, Mono - Ashes In The Snow


Depois de um clarão imenso, que estalava freneticamente e tudo aquecia, nada restou a não ser cinzas que voavam e dançavam naquele céu sobre o pequeno espaço onde o meu corpo jazia encolhido, como um feto aconchegado pela placenta.
Quando tudo acalmou e as partículas de cinza foram parando as suas valsas e repousando sobre mim, senti-me arrefecer. O frio era cada vez maior e eu não conseguia mexer-me. Por que não posso, pelo menos, tremer? E há, então, dentro de mim uma força que quer sair. São dores tremendas que não consigo acalmar e o meu interior continua a contorcer-se ferozmente.
Raios de luz começam a iluminar todo o espaço envolvente e algo sai de mim lentamente, enquanto as dores vão acalmando. Agora apenas um cadáver jaz no chão, cadáver que já não sou eu. Nas cinzas as minhas pegadas, à medida que me afasto rumo a uma floresta imensa, nua como eu.
O sol continua a indicar-me o caminho, por entre os ramos despidos, e aumenta em mim uma vontade de o seguir e corro, corro ainda mais...não sinto o cansaço, não se apodera de mim a debilidade da condição humana.
"Onde queres que vá?" E esses raios de luz respondem-me incessantemente "vem, vem"...e eu vou, com o nada que tenho. É idílico este caminho, que frenética vontade de não parar e dar esse meu primeiro grito novamente.
Sinto que estou próximo, a minha temperatura aumenta, é o sangue que corre de novo, esse sangue que quer voltar a fervilhar. "Vem, vem"...insiste essa luz.
Luz, apenas luz agora irradia esse tão aguardado lugar onde o manto de neve é perfeito e desabrocham flores escarlate como esse sangue que fervilha em mim. "Estou aqui! Fala-me!"



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