sábado, 1 de dezembro de 2012

Músicas para Escrever IV, Ludovico Einaudi - In Un'Altra Vita



São luzes de esperança estas que entram pela janela deste quarto onde estou preso. O fim é inevitável, tão inevitável que me acorrentaram a esta cama ferrugenta  Não recordo a última visita que tive, apenas lembro as suas palavras "adeus, voltaremos", no entanto, sempre soube que o "adeus" não retribui esperança porque faz com que a vontade desapareça. As únicas visitas que dão consolo são estes escassos e irreverentes raios de luz que irrompem pelos pequenos espaçamentos que alguém permitiu que existissem nas grades de uma minúscula janela e se esse alguém soubesse a felicidade que isso dá ou deu a quem já por cá passou, não as teria feito assim. Gosto desses raios de luz porque, quando vêm com mais vigor, aquecem-me o corpo como um forte abraço em que dois corpos sentem a troca de temperatura e insistem em perpetuar esse momento para que não seja apenas um instante. Gosto desses raios de luz porque insistem, mesmo que chova ou o céu esteja negro, em visitar-me. Gosto deles, apesar da inspiração que a noite me dá e pelos seus sonhos. Gosto desses raios de luz, acima de tudo, porque voltam sempre. Despedem-se apenas num "até já" e quando desperto e abro os olhos, esses raios de luz são a primeira coisa que vejo, são as carícias que me acalmam a dor, são os primeiros e únicos beijos que recebo. O fim é, pois, cada vez mais próximo e já não preciso de mais visitas. Apesar de venerar a capacidade de sonhar, poderosa expansão de imaginário inconsciente que a condição física não me tira, decidi que não quero partir num sonho, tranquilamente sem dar por isso. Quero que a minha partida seja no momento em que essa luz me abraça e lentamente me deixa fechar os olhos depois de sussurrar "até já!"