São luzes de esperança
estas que entram pela janela deste quarto onde estou preso. O fim é
inevitável, tão inevitável que me acorrentaram a esta cama ferrugenta Não recordo a última visita que tive, apenas lembro as
suas palavras "adeus, voltaremos", no entanto, sempre soube
que o "adeus" não retribui esperança porque faz com que a
vontade desapareça. As únicas visitas que dão consolo são estes
escassos e irreverentes raios de luz que irrompem pelos pequenos
espaçamentos que alguém permitiu que existissem nas grades de uma minúscula janela e se esse alguém soubesse a felicidade que isso dá
ou deu a quem já por cá passou, não as teria feito assim. Gosto
desses raios de luz porque, quando vêm com mais vigor, aquecem-me o
corpo como um forte abraço em que dois corpos sentem a troca de
temperatura e insistem em perpetuar esse momento para que não seja
apenas um instante. Gosto desses raios de luz porque insistem, mesmo
que chova ou o céu esteja negro, em visitar-me. Gosto deles, apesar
da inspiração que a noite me dá e pelos seus sonhos. Gosto desses
raios de luz, acima de tudo, porque voltam sempre. Despedem-se apenas
num "até já" e quando desperto e abro os olhos, esses
raios de luz são a primeira coisa que vejo, são as carícias que me
acalmam a dor, são os primeiros e únicos beijos que recebo. O fim
é, pois, cada vez mais próximo e já não preciso de mais visitas.
Apesar de venerar a capacidade de sonhar, poderosa expansão de
imaginário inconsciente que a condição física não me tira,
decidi que não quero partir num sonho, tranquilamente sem dar por
isso. Quero que a minha partida seja no momento em que essa luz me
abraça e lentamente me deixa fechar os olhos depois de sussurrar "até
já!"
1 comentário:
Speechless.
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