segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Músicas para Escrever XLVII, The Best Pessimist - Forgive me

Um dia vou escrever-te uma carta, ou talvez já a tenha escrito – não sei ao certo onde e "quando" estou. Será uma carta peculiar, que nunca esquecerás, assim o espero. Será a minha última carta para ti, só para ti, porque já terá o mundo desaparecido. Estaremos só, tu e eu, num vazio e poeirento universo. Estaremos os dois, não propriamente em carne e osso, mas em espírito, âmago, algo, aquilo em que acreditares e se acreditares em alguma destas coisas. Desde que a morte me enterrou dentro do ataúde, prometi que o meu âmago apenas encontraria descanso quando te encontrasse e te entregasse esta carta, que já foi um testamento, mas agora é demasiado tarde para isso.
Porque me desapareceste no dia em que prometeste voltar, não consegui fazer-te herdeira da minha felicidade, não consegui delegar-te a minha força, não pude deixar-te a minha vontade, nem pedir que me fizesses feliz naquele minuto antes de partir eternamente e fixar-me no céu, cuidando-te até que também tu viesses brilhar comigo. Foram duros os últimos dias em que escrevi, resistindo a enfermidades que me arrastavam para uma morte penosa e estas palavras foram escritas com sangue e lágrimas. Perdoa-me se alguma delas é imperceptível, mas tentei encontrar-te e ler-ta, em vão.
Não pretendo que amoleças este papel com lágrimas, não pretendo ocupar-te com tristeza ou remorsos porque o culpado aqui sou eu, que sentindo-te faltar, fui induzindo a minha morte. Apenas peço: recorda-me nesses dias de esplendor em que sabia sorrir!




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