Luzes sequenciais que
ofuscam, sinais de proibição e obrigação que não quero respeitar
porque não tem que ser assim, buracos no asfalto mal emendados,
solavancos nas incertas estradas de calçada, iluminação que vai
oscilando e essa chuva imensa que torna todas estas visões numa
aguarela que expande as suas cores debaixo das gotas grossas que a
vão percorrendo até se perderem num chão inundado e solvente.
O ponteiro do
velocímetro vai aumentado, enquanto ignoro o ruído do motor e me
foco apenas nesta estrada. Tudo me é alheio agora, conduzo como se
estivesse dentro de um túnel com uma lenta obturação e cada vez
mais veloz até sentir dor de tanto pressionar o acelerador.
De repente é enorme o
estrondo que ouço e não sei bem de onde vem porque não tenho tempo
de olhar, enquanto sou disparado pelo vidro do carro e voo em voltas
constante como uma folha solta que dança com o vento. Voo até o meu
corpo ser aconchegado pela água fria desse rio que guiará o meu
percurso. De tão poucas que são as minhas forças, não poderei
lutar contra a sua corrente, senão aguentar-me à superfície. E de
que me vale isso se estas hemorragias internas me dilaceram e, aos
poucos me farão sucumbir penosamente com o sabor do sangue na boca?
Expiro todo o ar dos
meus pulmões rasgados e deixo-me ir num descender pacífico no meio
de um turbilhão. A minha visão torna-se turva até que tudo
desaparece e, com o tudo, o meu fôlego também...
Sem comentários:
Enviar um comentário