Jazia sozinho no sofá,
embrulhando-se numa manta colorida por remendos. Nem nas noites mais
frias de Inverno dormia na sua cama. Ficava no sofá da pequena sala
com uma porta para a rua e nunca trancava a porta, acreditando que
alguém poderia querer entrar para lhe dar algum conforto. A
televisão ligada toda a noite para ter algumas companhia e já lhe
eram familiares as vozes mais comuns como a voz de alguém próximo
que o saúda na abertura do primeiro jornal e lhe deseja boa noite
depois das últimas notícias, já que mais ninguém o faz.
A sua amada morrera
acamada e havia-se habituado a ocupar o sofá para não perturbar o
sono da pessoa que havia amado ao longo de toda a sua vida. Ali
ficava e quando, por algum motivo, despertava durante a noite,
espreitava pela porta entreaberta do quarto mas rapidamente voltava
para o sofá para adormecer e esquecer que sua amada já ali não
jazia como ele. A cama que, para ele, não fazia sentido, pelo menos
só para ele.
Todas as manhãs, quando
acordava, voltava ao quarto para enfrentar a sua dor e ter a certeza
da sua solidão, abria a janela e voltava a fazer a cama que ainda
guardava duas marcas corporais no colchão.
Nesse noite, decidiu
ficar no quarto. Estava cansado das mesmas vozes da televisão que,
apesar de o saudarem ou dele se despedirem, apenas lhe traziam
notícias de um mundo triste, talvez mais triste do que ele. Adormeceu, ao lado do espaço côncavo da sua amada, para não mais
acordar.
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