terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Músicas para Escrever XXI, Aesthesys - Once You're Born You Can No Longer Hide


Para além de toda a matéria que nos compõem, somos também constituídos por vontades, desejos, aspirações e sonhos...ou seríamos espantalhos inanimados onde com sarcasmo a passarada largaria as suas necessidades.
Quando crescemos e a imaginação vai sendo castrada por uma impiedosa sociedade, que tenta impor regras sem sentido, medidas ridículas, e tudo isto desmesuradamente, todas essas vontades, desejos, aspirações e sonhos vão sendo sepultados ou abandonados por nós próprios, que os criámos, que os acolhemos no nosso colo, que os alimentámos e com eles fomos felizes.
Não quero ser parte de uma sociedade que se desresponsabiliza por criar órfãos e órfãs. Sim, órfãos e órfãs, que não têm onde ser acolhidos. Esta sociedade fá-lo abundantemente e colectivamente, como uma epidemia mortífera que vai enegrecendo todos os espaços que outrora tiveram alguma cor e esperança.
Órfãos e órfãs que vagueiam por aqui e por ali, dormindo entras as letras de textos gloriosos do passado, não propriamente tão antigo, sem terem onde encontrar um abrigo para os dias mais agrestes. Vagueiam como fantasmas porque não são feitos de matéria como nós e podem ser eternos e eternas. São muito mais poderosos do que quem os cria e tanta gente insiste em abandonar estas criações. Será medo da nossa pequenez? Pequenos são os que abandonam.
Eu tenho as minhas vontades, os meus desejos, as minhas aspirações, os meus sonhos. Muitos são meus, outros foram adoptados quando os encontrei perdidos pelos sítios e vidas por onde fui passando, outros são ainda partilhados com pessoas que não compactuam com a maldade do abandono e querem continuar a criar, acolher e partilhar. No entanto, o que eu quero mesmo é criar um orfanato para acolher todas as essas vontades, aspirações, desejos e sonhos abandonados, que algum dia significaram muito para alguém, e, quem sabe, devolvê-las a essas mesmas pessoas convertidas, com a certeza de que, desta vez, não haverá um abandono.




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