Quando a insónia decide
partilhar o leito comigo sem ser convidada e sem ter a amabilidade de
me dirigir uma única palavras, o relógio é a minha melhor e também pior companhia. Relembra-me que a hora de sair da cama está cada
vez mais próxima mas também me prega as suas partidas, parecendo
arrastar-se, quando me escapa a atenção. Para não mencionar também
que a sua maneira de me contar histórias é demasiado
monótona e, ainda assim, não consigo adormecer como numa daquelas
aulas desprovidas de interesse. Em outros momentos esse objecto que
mede o tempo, uma e outra vez, sem se cansar de repetir a mesma
tarefa vezes sem conta, brincaria comigo de outra forma, acelerando-se o mais que consegue e haveria algum "tic-tac"
sarcástico sobre o meu eterno pensamento"passou tão rápido".
É, então, nesses momentos, que são fugazes como estrelas cadentes e em que
todos os desejos são pedidos, que desejo ser um fantasma. Isso
mesmo, um fantasma. Desejo-o desde que ouvi o "Doctor Casares" descrever esse "acontecimento" no filme "El Espinazo Del Diablo". Sim, queria ser um fantasma ainda que fosse
"um instante de dor, talvez", pois, como dor, poderia ser
qualquer outro "sentimento suspenso no tempo" que "voltaria
a repetir-se uma e outra vez", quem sabe, porque sobre a vontade
não há limites. E esse seria eu, sem fazer contas ao tempo.
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