O "Ingénuo"
era "Ingénuo" porque toda a gente lhe chamava assim, ou se
não chamava, pelo menos, pensava. Era o "Ingénuo" porque
era diferente. Acreditava em toda a gente, mas não por ser parvo.
Gostava de todas as pessoas, convidava-as com tudo o que tinha para
fazerem parte da sua vida. Dava o que podia para fazer as pessoas
felizes e, muitas vezes, era infeliz porque acabava esquecido. O
"Ingénuo" ouviu muitas histórias mas fez parte de muito
poucas, não porque não quisesse mas porque de grande anfitrião
passava a ser o convidado a quem os convites nunca chegavam. E, ainda
assim, sentia-se feliz quando as pessoas se realizavam, mesmo que as
suas pegadas tivessem sido apagadas pelo esquecimento.
Doía-lhe que lhe
chamassem o "Ingénuo" mas não desistia. Sempre que era
preciso lá estava ele, pronto, feliz, sorrindo, esperando, quando
era preciso e voltando a casa sozinho, muitas vezes, ou agindo em
anonimato, sabendo que os seus créditos nunca apareceriam no final
do filme, ainda que em letras minúsculas.
O "Ingénuo"
teve uma morte precoce. Pereceu sozinho, esperando por alguém que
nunca apareceu. Ninguém soube da sua morte, ninguém sentiu a sua
falta nos momentos que se seguiram. O tempo passou e esse tal sujeito
a quem todos chamavam o "Ingénuo" deixou de aparecer
quando alguém precisava, então, aí, a sua falta foi sentida e uma
mágoa imensa instalou-se no coração das pessoas e todos choraram.
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