quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Músicas para Escrever XXIII, God Is an Astronaut - Golden Sky


O "Ingénuo" era "Ingénuo" porque toda a gente lhe chamava assim, ou se não chamava, pelo menos, pensava. Era o "Ingénuo" porque era diferente. Acreditava em toda a gente, mas não por ser parvo. Gostava de todas as pessoas, convidava-as com tudo o que tinha para fazerem parte da sua vida. Dava o que podia para fazer as pessoas felizes e, muitas vezes, era infeliz porque acabava esquecido. O "Ingénuo" ouviu muitas histórias mas fez parte de muito poucas, não porque não quisesse  mas porque de grande anfitrião passava a ser o convidado a quem os convites nunca chegavam. E, ainda assim, sentia-se feliz quando as pessoas se realizavam, mesmo que as suas pegadas tivessem sido apagadas pelo esquecimento.
Doía-lhe que lhe chamassem o "Ingénuo" mas não desistia. Sempre que era preciso lá estava ele, pronto, feliz, sorrindo, esperando, quando era preciso e voltando a casa sozinho, muitas vezes, ou agindo em anonimato, sabendo que os seus créditos nunca apareceriam no final do filme, ainda que em letras minúsculas.
O "Ingénuo" teve uma morte precoce. Pereceu sozinho, esperando por alguém que nunca apareceu. Ninguém soube da sua morte, ninguém sentiu a sua falta nos momentos que se seguiram. O tempo passou e esse tal sujeito a quem todos chamavam o "Ingénuo" deixou de aparecer quando alguém precisava, então, aí, a sua falta foi sentida e uma mágoa imensa instalou-se no coração das pessoas e todos choraram.




Sem comentários: