Chamavam-lhe "Indigente"
e bebia tequila sozinho numa mesa, que passava despercebida a um
canto desse bar de tons neutros e luzes foscas. Na ausência de
alguém para partilhar uma conversa, bebia olhando-se a um espelho
fixo na parede.
O seu dilema era sempre o
mesmo: como acabaria aquela conversa com a garrafa de tequila?
Algumas vezes resistia e
voltava só e amargurado para casa. Outras vezes, bebia até que o
seu reflexo turvo no espelho lhe fosse retribuindo conversas que ele
mesmo imaginava e voltava a casa cambaleando. Umas vezes ria, outras
vezes chorava e o espelho ria e chorava com ele.
De manhã, a sensação
era sempre a mesma. A ilusão desaparecia com o despertar e, afinal,
continuava só, dificilmente recordando-se dos diálogos que havia
tido com o seu reflexo. A ressaca enchia-o de arrependimentos e
prometia não voltar a ter mais dessas conversas, não com uma
garrafa de tequila novamente. Mas essas promessas eram esquecidas
quando se sentava à mesa e a cadeira ao seu lado continuava vazia.
Então, o "Indigente" recorria, mais uma vez, à sua
prostitua barata, que levava para casa dentro si até ao dia em que
também ela se cansou do "Indigente" e o sufocou enquanto
dormia.
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