segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Músicas para Escrever XIX, Black Sabbath - Planet Caravan


Chamavam-lhe "Indigente" e bebia tequila sozinho numa mesa, que passava despercebida a um canto desse bar de tons neutros e luzes foscas. Na ausência de alguém para partilhar uma conversa, bebia olhando-se a um espelho fixo na parede.
O seu dilema era sempre o mesmo: como acabaria aquela conversa com a garrafa de tequila?
Algumas vezes resistia e voltava só e amargurado para casa. Outras vezes, bebia até que o seu reflexo turvo no espelho lhe fosse retribuindo conversas que ele mesmo imaginava e voltava a casa cambaleando. Umas vezes ria, outras vezes chorava e o espelho ria e chorava com ele.
De manhã, a sensação era sempre a mesma. A ilusão desaparecia com o despertar e, afinal, continuava só, dificilmente recordando-se dos diálogos que havia tido com o seu reflexo. A ressaca enchia-o de arrependimentos e prometia não voltar a ter mais dessas conversas, não com uma garrafa de tequila novamente. Mas essas promessas eram esquecidas quando se sentava à mesa e a cadeira ao seu lado continuava vazia. Então, o "Indigente" recorria, mais uma vez, à sua prostitua barata, que levava para casa dentro si até ao dia em que também ela se cansou do "Indigente" e o sufocou enquanto dormia.




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