Naquela noite de finais
de Primavera a débil criatura encontrou o seu derradeiro repouso nos
espaços das pedras da calçada. A sua queda foi um evento de
investiduras desconhecidas, cada vez mais longe do seu ninho caloroso
e suave, rodeada por outras criaturas que, na procura de mais
conforto, quem sabe, a terão lançado nessa queda rumo a um exterior
marcado pela fatalidade de se ser frágil.
Não foram longos os
momentos de sofrimento neste seu último repouso. Quando não
conhecemos o "desconhecido", muitas vezes, é maior em nós
o espanto, a curiosidade, a ingenuidade, do que propriamente o medo,
a angústia ou a morte por antecipação e, assim, caiu a criatura
contemplando o momento até embater sobre o granito frio. Nunca
soubera o que era a dor e foi estranha a sensação da gradual perda
dos sentidos até repousar a cabeça no pequeno aglomerado de musgo,
deixando-se ali ficar.
Terão passados alguns meses, veio o abrasador calor do Verão, vieram as chuvas do Outono e
resta apenas uma esqueleto encolhido, tão aconchegado no ponto onde
quatro pedras se encontram, coberto com algumas penas e ainda lá
está a almofada de musgo sob o seu crânio.
Sem intervenções
alheias, a Natureza proporcionou a essa criatura um túmulo, criando
uma obra de arte e, todos os dias, o sol continua a dar um pouco de
calor ao que resta dessa criatura, talvez relembrando-a do calor do
ninho de onde partiu precocemente.
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