sábado, 15 de dezembro de 2012

Músicas para Escrever XVIII, Agnes Obel - Riverside


Naquela noite de finais de Primavera a débil criatura encontrou o seu derradeiro repouso nos espaços das pedras da calçada. A sua queda foi um evento de investiduras desconhecidas, cada vez mais longe do seu ninho caloroso e suave, rodeada por outras criaturas que, na procura de mais conforto, quem sabe, a terão lançado nessa queda rumo a um exterior marcado pela fatalidade de se ser frágil.
Não foram longos os momentos de sofrimento neste seu último repouso. Quando não conhecemos o "desconhecido", muitas vezes, é maior em nós o espanto, a curiosidade, a ingenuidade, do que propriamente o medo, a angústia ou a morte por antecipação e, assim, caiu a criatura contemplando o momento até embater sobre o granito frio. Nunca soubera o que era a dor e foi estranha a sensação da gradual perda dos sentidos até repousar a cabeça no pequeno aglomerado de musgo, deixando-se ali ficar.
Terão passados alguns meses, veio o abrasador calor do Verão, vieram as chuvas do Outono e resta apenas uma esqueleto encolhido, tão aconchegado no ponto onde quatro pedras se encontram, coberto com algumas penas e ainda lá está a almofada de musgo sob o seu crânio.
Sem intervenções alheias, a Natureza proporcionou a essa criatura um túmulo, criando uma obra de arte e, todos os dias, o sol continua a dar um pouco de calor ao que resta dessa criatura, talvez relembrando-a do calor do ninho de onde partiu precocemente.




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