segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Músicas para Escrever XXXIV, Epigram - This Is Not Where We Are Supposed to Be


Ele despediu-se, desceu as escadas lentamente e saiu de onde não queria sair e acreditou que ela também não queria que ele saísse. Assim teve que ser – talvez não, não tinha que ter sido assim, pensa hoje! Caminhou rua abaixo, hesitando cada passo, sentia-os pesados como se o chão o agarrasse porque, no fundo, até o chão sabia que ele se movia contra a sua vontade. Antes de virar a esquina olhou novamente para trás, talvez imaginando como seria se não tivesse saído, mas os "ses" são o mais drástico inicio de qualquer pergunta, levam sempre ao arrebatador arrependimento. Não sabia se ela ainda o observava, mas queria acreditar que sim. Bem lá dentro acreditava e sentia-se feliz, explodindo em palpitações.
Dessa vez não se irritou por estar a chuviscar  pelo contrário, desejou que aquela chuva caísse mais intensamente e o molhasse completamente e, num acto de "não quero saber", voltasse para trás com o pretexto de pedir abrigo e não tivesse que ir embora, mas não o fez porque a chuva também não realizou o seu desejo. Continuou, olhando uma derradeira vez, não imaginando nunca que fosse a última, na esperança de ver a sua silhueta espreitar por trás da cortina de alguma das janelas, mas não viu nada.
Chegou ao quarto e pensou deitar-se vestido sobre a cama. A sua roupa detinha a fragrância do espaço dela e, por momentos, perdia a noção do seu quarto e acreditava que, afinal, não teria ido embora mas, quando abria os olhos, via-se novamente no seu cubículo, completamente sozinho. Despiu-se, enfiou-se na cama e quis adormecer depressa. Assim aconteceu.
Dias, noites, semanas, meses, anos passaram...ainda continua à espera e desespera a cada dia, a cada noite, a cada semana, a cada mês, a cada ano.
Nunca mais a viu!
Nunca mais a viu da mesma maneira como quando se despediram naquela noite.
Hoje vive na mesma rua onde tudo aconteceu, numa casa mesmo em frente onde ela vivia, mas ela já não vive ali. Já não sabe onde ela vive, no entanto, todos os dias, antes de se deitar, vem ao jardim e pára a olhar para as janelas onde outrora desejou ver a sua silhueta.




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