Ele despediu-se, desceu
as escadas lentamente e saiu de onde não queria sair e acreditou que
ela também não queria que ele saísse. Assim teve que ser –
talvez não, não tinha que ter sido assim, pensa hoje! Caminhou rua
abaixo, hesitando cada passo, sentia-os pesados como se o chão o
agarrasse porque, no fundo, até o chão sabia que ele se movia
contra a sua vontade. Antes de virar a esquina olhou novamente para
trás, talvez imaginando como seria se não tivesse saído, mas os
"ses" são o mais drástico inicio de qualquer pergunta,
levam sempre ao arrebatador arrependimento. Não sabia se ela ainda
o observava, mas queria acreditar que sim. Bem lá dentro acreditava
e sentia-se feliz, explodindo em palpitações.
Dessa vez não se irritou
por estar a chuviscar pelo contrário, desejou que aquela chuva
caísse mais intensamente e o molhasse completamente e, num acto de
"não quero saber", voltasse para trás com o pretexto de
pedir abrigo e não tivesse que ir embora, mas não o fez porque a
chuva também não realizou o seu desejo. Continuou, olhando uma
derradeira vez, não imaginando nunca que fosse a última, na
esperança de ver a sua silhueta espreitar por trás da cortina de
alguma das janelas, mas não viu nada.
Chegou ao quarto e pensou
deitar-se vestido sobre a cama. A sua roupa detinha a fragrância do
espaço dela e, por momentos, perdia a noção do seu quarto e
acreditava que, afinal, não teria ido embora mas, quando abria os
olhos, via-se novamente no seu cubículo, completamente sozinho.
Despiu-se, enfiou-se na cama e quis adormecer depressa. Assim
aconteceu.
Dias, noites, semanas,
meses, anos passaram...ainda continua à espera e desespera a cada
dia, a cada noite, a cada semana, a cada mês, a cada ano.
Nunca mais a viu!
Nunca mais a viu da mesma
maneira como quando se despediram naquela noite.
Hoje vive na mesma rua
onde tudo aconteceu, numa casa mesmo em frente onde ela vivia, mas
ela já não vive ali. Já não sabe onde ela vive, no entanto, todos
os dias, antes de se deitar, vem ao jardim e pára a olhar para as
janelas onde outrora desejou ver a sua silhueta.
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