sábado, 29 de dezembro de 2012

Músicas para Escrever XXXII, Mono - Halo (II)


NOITE DESAFORTUNADA: Bom dia, ESQUECIMENTO!

(Porque é que a luz do quarto tinha que estar programada para se acender quando toca o despertador? Má ideia para dias como este!)

Não é que, de facto, seja um bom dia, mas então, por que raio, é que digo bom dia ao ESQUECIMENTO e não me calo ou me viro para o outro lado e adormeço de novo e tento, assim, curar esta ressaca de sentimentos? Que mania de cumprimentar tudo e todos e, na maioria das vezes, fazer figura de idiota porque não se é correspondido, como aquele aceno que ninguém vê, ou as palavras que ninguém ouve. Que mania de se acreditar que todos reagirão do mesmo modo que se reage com eles. Tretas!, na maioria das vezes não é porque não vêem, mas sim porque ignoram! Quem é que nunca ignorou um aceno ou desviou o olhar para evitar alguém?

(Por que é que tinha que estar a chover hoje também?)

Espera, já me lembro do porquê de ter dito bom dia:
Quis fazer-me amigo do ESQUECIMENTO para que ele levasse tudo o que tenho no pensamento para bem longe e me fizesse esquecer a quem tinha entregue as minhas MEMÓRIAS. Ontem deitei-me e não consegui sonhar, pelo menos, com não aquilo que necessito e que me ajudaria a encontrar uma realidade que se vai esfumando sem deixar rasto entre as minhas MEMÓRIAS e as imagens desse sonho vão ficando, aos poucos, cada vez mais desfocadas. Mas até o ESQUECIMENTO se esqueceu de mim ou me ignora: acenei-lhe, ensonado, e não reagiu, disse-lhe bom dia, para me fazer ouvir e, nem aí, obtive algo recíproco.

(Será que vale a pena sair da cama hoje? Será?)

O conforto caloroso da cama nesta manhã fria e chuvosa faz com que este cenário se torne num dos melhores remédios para tão agressiva ressaca de sentimentos porque oferece várias hipóteses: hibernação social ou alheamentos através de sonhos, sem termos que ver quem ou aquilo que nos esquece, ou pior ainda, encontrar quem ou aquilo que nos vimos forçados a esquecer sem intervenção voluntária do ESQUECIMENTO.
Se ainda alguém me trouxesse um chá à cama era perfeito. No entanto, há algo que se assemelha a um medo quando penso na hipótese de atravessar a porta do quarto e involuntariamente ver alguém pela janela, ou que esse alguém me veja a mim através dela.  Mas terá que ser, vou à cozinha rapidamente e volto para me enfiar aqui, como um ninja.

A CAMPAINHA!? (Quase deixei cair a chávena do chá!)

Alguém me viu. Não, não! Não pode ter visto! 
Não estou em casa. Deixa-me ficar aqui quieto.

Não, vou lá espreitar em silêncio.

- Abre a porta, sei que estás aí!

Como é que...?

- Sei que estás aí. Dá para ver a tua sombra por baixo da porta?

Eu não disse que deveria temer as janelas? Não diretamente por elas, mas através da luz que entra por elas, acabei por ser visto. Que faço agora?
Deixa-me entrar!

- Bom dia! - (Disse isto outra vez, depois de ceder e abrir a porta.)
- Tens a certeza disso?
- Definitivamente, não!
- Anda cá!
- Não sei se será boa ideia...
- Acredita que é a melhor.
- E se partes de novo?
- Não parto! Anda cá!

Não dei mais passos, deixei-me cair na direção desse alguém que me descobriu e se me ofereceu delicadamente.
E foi assim que vim ter a este estado de quarentena, que eu próprio criei para me proteger!




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