Tanta gente passa nestas
ruas e eu gostava de fotografá-las a todas. Fotografias colectivas e
individuais, discretamente. Ler o rosto e a expressão das pessoas,
dia após dia, numa tentativa de aprender algo mais com a humanidade.
Como são os tempos que
correm? Que sentimentos encontraria nos inúmeros rostos que
preencheriam totalmente as paredes de uma sala?
De um modo geral
caminharia também entre elas para que alguém me fizesse mesmo, sem
que eu me apercebesse, talvez em ruas de outra cidade. Se me
fotografasse a mim mesmo nesse contexto seria uma fingidor, rodeado
por tanta gente mas, ao mesmo tempo, sem trocar um palavra ou
sorriso, fingindo um bem-estar para evitar questões e pensamentos,
ou dissimulando mal-estar carrancudo, cortando qualquer tentativa de aproximação
e afecto.
E, eis, que surge essa
pessoa feliz, tentando contagiar com sorrisos e com uma tenuidade que eu
próprio a confundiria com um anjo. Mas a expressão dessa pessoa muda
quando confrontada com amorfia de rostos e sentimentos das pessoas que iam sendo fotografadas. E, ainda assim, essa foi a única
pessoa capaz de sentir. Sentou-se nesse solitário banco de jardim,
chorando horas a fio, discreta porque ninguém a queria ver ou não a
compreenderia. E eu nada fiz a não ser registá-la para não me
esquecer daquele momento porque, afinal, lembro-e de ter sido assim
também.
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