sábado, 8 de dezembro de 2012

Músicas para Escrever XII, Agnes Obel - Louretta


Tanta gente passa nestas ruas e eu gostava de fotografá-las a todas. Fotografias colectivas e individuais, discretamente. Ler o rosto e a expressão das pessoas, dia após dia, numa tentativa de aprender algo mais com a humanidade.
Como são os tempos que correm? Que sentimentos encontraria nos inúmeros rostos que preencheriam totalmente as paredes de uma sala?
De um modo geral caminharia também entre elas para que alguém me fizesse mesmo, sem que eu me apercebesse, talvez em ruas de outra cidade. Se me fotografasse a mim mesmo nesse contexto seria uma fingidor, rodeado por tanta gente mas, ao mesmo tempo, sem trocar um palavra ou sorriso, fingindo um bem-estar para evitar questões e pensamentos, ou dissimulando mal-estar carrancudo, cortando qualquer tentativa de aproximação e afecto.
E, eis, que surge essa pessoa feliz, tentando contagiar com sorrisos e com uma tenuidade que eu próprio a confundiria com um anjo. Mas a expressão dessa pessoa muda quando confrontada com amorfia de rostos e sentimentos das pessoas que iam sendo fotografadas. E, ainda assim, essa foi a única pessoa capaz de sentir. Sentou-se nesse solitário banco de jardim, chorando horas a fio, discreta porque ninguém a queria ver ou não a compreenderia. E eu nada fiz a não ser registá-la para não me esquecer daquele momento porque, afinal, lembro-e de ter sido assim também.





Sem comentários: